Que tipo de povo somos, afinal?

Escrito por Diana Santos

“Não podemos continuar a permitir que qualquer pessoa tome as chaves da cidade, maltratando o que nos pertence, deixando morrer os séculos devido à sua inércia, desvirtuando a cultura e destruindo passado e futuro numa só governação.”

Mais de oitocentos anos de História deveriam ser suficientes para a consolidação de uma identidade, porém quando procuramos aquilo que nos caracteriza enquanto povo, encontramos dificuldade nessa definição. Talvez seja por isso que, na Guarda, nos sentimos, há tanto tempo, perdidos – de sentido, de orgulho e de ânimo – e talvez seja esta a razão da nossa pouca exigência, afinal, só se exige a partir do motivo, quer isto dizer, da raiz.
Não saber quem somos torna-nos distantes da preservação do que se foi e da ambição de se querer ser. É como nada esperar, como ver a vida passar-nos diante dos olhos e não a viver.
Acomodados, acobardados e amarrados ao vazio, sem ânsias nem esperanças, falamos sobre o tempo, para esconder o tempo que estamos a perder. Imersos num retiro sem espírito, proferimos liturgias que se automatizaram naquele que é, provavelmente, o único e último lugar de encontro desta comunidade: a igreja.
Na pele trazemos o medo, os traumas de um regime que não foi totalmente apagado, a obediência, a subserviência, a vénia e o beija-mão aos senhores feudais e a outros que tais. Imperam senhores doutores que não são doutos, numa terra ideal para o engano.
Será que a cidade que é considerada berço da Língua Portuguesa perdeu a sua voz? Depois de tantos trovadores, poetas e pensadores, Homens e Mulheres ilustres, depois de tantas histórias de amor, de tantas lutas e conquistas, de tanto património edificado, não teremos nós a responsabilidade de defender o lugar que habitamos, exaltando a História, a Cultura, a Memória e construindo o Porvir?
Não podemos continuar a permitir que qualquer pessoa tome as chaves da cidade, maltratando o que nos pertence, deixando morrer os séculos devido à sua inércia, desvirtuando a cultura e destruindo passado e futuro numa só governação.
A sede de poder não pode desfazer uma comunidade e a comunidade deve saber defender-se. É urgente que aprendamos a escolher (e a ser) pessoas que saibam respeitar quem fomos, que queiram desenvolver quem somos e que promovam condições para que sejamos sempre um povo melhor. Só assim se faz Futuro. Só assim se encontra a Feli(z)Cidade.

* Diana Santos inicia nesta edição uma colaboração quinzenal com O INTERIOR. É investigadora científica do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto, doutoranda em Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e membro da Comissão Política Concelhia do PS – Guarda

Sobre o autor

Diana Santos

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