O primeiro-ministro agradeceu o “voto de confiança” ao PS e ao Governo dado nas eleições europeias e fez questão de sublinhar a «derrota muito clara» da direita. António Costa tem razão quanto à derrota de PSD e CDS e à vitória do PS, porém os resultados finais mostram que os socialistas ganharam por pouco mais do que “poucochinho”.
1- O secretário-geral do PS salientou que, ao contrário do que é normal, o partido no exercício da ação governativa saiu ganhador em europeias. No entanto, esta afirmação não é rigorosa, já que, em oito eleições para o Parlamento Europeu realizadas em Portugal, esta é a quarta vez que o partido no Governo sai vencedor (Cavaco ganhou em 1987 e 1989 quando governava, tendo acontecido o mesmo com Guterres em 1999);
2- Em 2014, os socialistas venceram com 31,5% de votos válidos, agora conseguiram 33,4%. Este aumento de dois pontos percentuais representa um acréscimo de votos inferior a 73 mil. Ou seja, o plebiscito ao Governo em que António Costa transformou esta eleição acrescentou menos de 100 mil eleitores àqueles que, há cinco anos, votaram no PS liderado por António José Seguro;
3- A distância entre o partido vencedor e aquele que ficou em segundo foi a maior desde 1999. Nas últimas europeias foram menos de quatro pontos a distanciar o PS do PSD (os sociais-democratas concorreram coligados ao CDS) e essa distância foi agora superior a 11 pontos. Apesar de o PS beneficiar do pior resultado eleitoral de sempre do PSD (que garante, contudo, os mesmos seis deputados) e da fraca prestação do CDS (limita-se a manter um eurodeputado), a verdade é que, mesmo assim, se PSD e CDS tivessem concorrido novamente em coligação teriam ficado a apenas cerca de cinco pontos do PS, com mais ou menos o mesmo número de votos obtidos em 2014;
4- António Costa considera que o PS sai destas eleições com «força renovada» para enfrentar as próximas legislativas. Tendo em conta que o primeiro-ministro assumiu as despesas de uma campanha eleitoral que governamentalizou desde início, e sobretudo na sequência da crise dos professores, os socialistas não conseguem um grande resultado em termos de votação. Nas legislativas de 2015, altura em que perdeu para a coligação PSD-CDS, Costa teve 32,3%, somente menos um ponto do que os 33,4% registados nestas europeias;
5- Assim, se as legislativas reproduzirem um resultado idêntico ao do passado domingo, o PS fica a anos-luz da não confessadamente desejada maioria absoluta. Pior, não poderá tentar governar com base em acordos (pontuais ou estruturais) com um só partido, ficando a governação dependente de acordos de maior latitude, necessariamente envolvendo vários partidos;
6- Ora, além da vitória técnica do PS e da derrota da direita, houve ainda a derrota da CDU (fica com metade dos votos e perde um mandato em Estrasburgo) e as vitórias do Bloco (mais do que duplica a votação e dobra a representação no Parlamento Europeu) e do PAN (estreia-se, com a eleição de um eurodeputado, com um resultado que, se se tratasse de legislativas, permitira eleger pelo menos seis deputados à Assembleia da República);
7- Uma vez que Costa rejeita qualquer cenário de bloco central e considerando que o PCP dificilmente estará disponível para novas geringonças depois da debacle comunista nas autárquicas, o PS pode ficar nas mãos de Bloco e, ou, PAN.
A melhor análise que li sobre os resultados eleitorais. Parabéns!