Pós dos soviéticos

«Talvez por não serem sociedades com muita cultura democrática, as pessoas que usam máscara sanitária, fazem-no apenas a tapar a boca, com o nariz de fora, como se fosse uma mordaça»

Depois de cinco meses na Lituânia, um país que saiu da União Soviética e que rapidamente se transformou num país moderno da Europa do Norte, motivos profissionais levaram-me à Ucrânia e à Arménia. Se alguém ainda tem dúvidas sobre os benefícios do comunismo planificado da União Soviética, marque viagem imediatamente.
Nas cidades de Kiev e Odessa há quarteirões inteiros de prédios todos iguais, sem cor, sem espírito, sem personalidade. Por dentro, o capitalismo talvez tenha permitido alguma personalização dos espaços das casas, mas por fora continuam a ser apenas mastodontes arquitectónicos. Os arquitectos soviéticos não perceberam o que Marx queria dizer com a frase “operários de todos o mundo, uni-vos”. Julgo que o filósofo alemão não se referia a unir todos os trabalhadores em gigantescos blocos de betão. Nem me parece que um bloco de apartamentos com quase um quilómetro de comprimento e quarenta metros de altura seja o mais adequado para a formação da consciência de classe. A não ser que o objectivo pretendido fosse a consciência da falta de classe.
Por outro lado, 30 anos depois do fim do comunismo, estes dois povos mostram aquilo que muitos no Ocidente chamarão de falta de consciência, outros apenas viver como lhes dá na gana. Talvez por não serem sociedades com muita cultura democrática, as pessoas que usam máscara sanitária, fazem-no apenas a tapar a boca, com o nariz de fora, como se fosse uma mordaça. A boca até pode dar jeito ficar tapada, não se vá dizer alguma coisa que não se deve. Já o nariz, obviamente, faz falta para respirar. Não importa onde, autocarros, lojas, universidades, o uso de máscara é praticamente inexistente. Hipocondríacos, não venham ao Leste.
Por outro lado, não via uma concentração tão grande de polícias e militares como na praça central da cidade de Erevan. Além de uma omnipresença da polícia – que me ajudou a encontrar a Universidade, apesar de nenhum dos homens saber falar inglês – todos os edifícios governamentais são guardados por meia dúzia de soldados. Obviamente, todos sem máscara. Vou daqui convencido que a pandemia foi uma invenção da União Europeia para acabar com os voos low cost.

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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