Ouvi dizer que Lisboa se está a encher de jovens católicos para celebrarem a sua fé e verem o líder espiritual, para uma coisa chamada JMJ – pelo que tenho ouvido na televisão, estas jornadas devem ser sempre nomeadas pelo acrónimo. Parece que uma missa do Papa traz mais pessoas a Portugal do que uma vintena de jogos entre as melhores selecções de futebol do mundo.
Para uma pessoa das profissões intelectuais que só lê o “Público” e o “Expresso”, isto é obviamente uma grande surpresa. Sempre habituados a ouvir que a sofisticação está no agnosticismo, e que a Igreja Católica é uma organização de corruptos e pedófilos, é natural que estejamos embasbacados com esta observação contra-intuitiva de ajuntamentos de cristãos.
Quando o Presidente da República nos disse em êxtase, «Conseguimos», o Portugal cosmopolita riu-se e pensou, “pronto, lá vem mais um acampamento de escuteiros”.
Para um ateu, como eu, a fé inabalável é sempre surpreendente. A comunhão dessa fé com a alegria esfusiante que estes peregrinos mostram nas reportagens é incomodativa. Neste caso nem é tanto por causa da fé, mas porque a alegria dos outros aborrece sempre um bocadinho.
Aborrece tanto que até artistas que ganham a vida com contratos públicos para eventos de pequenas audiências fazem uma pantomina gira contra os contratos públicos para enormes audiências. O que chateia este neo-Bordalo não pode ser o facto de haver mais de um milhão de estrangeiros em Portugal (se fosse, era racista) ou o facto de existir investimento ou subsidiação pública (se fosse, era neo-liberal). Só pode ser a alegria dos outros que chateia (e neste caso, é apenas identidade nacional).
Para incréus como eu, o que realmente impressiona nos cristãos que se juntam nestas JMJ é a crença indisfarçável em três coisas em que nunca tive fé: na existência de Deus, na bondade da Humanidade e nas maravilhas de Portugal.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia