Pensava eu, na minha mais modesta ingenuidade, que a mentalidade dos galinheiros dava mostras de terminar. Engano completo. Se errar é próprio da natureza humana, admitir o erro é, apenas e tão só, um ato de humildade democrática.
O milho transgénico, pelos vistos, faz milagres e engorda franguitos, frangos, galinhas, galos capões onde se misturam pássaros, passarinhos, passarões, mochos, gaviões, palmípedes, corredouras e mais umas quantas aves de rapina, que com as suas penas iridescentes de coloração disforfista, assumem um protagonismo digno do reinozinho descrito por Saint-Exupéry, fazendo com que a revolução bolchevique há muito fosse traída.
Nestas crónicas de um coração aos berros, entre gaviões e passarinhos, o galito afia o bico e, com o aproximar do carnaval, travestiu-se de abutre, tentando ser o novo protagonista da vã glória de mandar ou vã cobiça. Olhando para este galinheiro, cercado de quintas e quintarolas, tenho obrigatoriamente de lembrar a bonita e deslumbrante Pompeia Sula, célebre esposa de Júlio César, essa mesmo, que não bastava sê-lo. Precisava de parecê-lo.
A Alice, outra bem conhecida de todos nós, continua deslumbrada no tal país das mil e tantas maravilhas, ao mesmo tempo que está borradinha de medo pela presença do lobo mau, que caminha próximo da cáfila de malandros (que não estão descritos na crónica), deixando que os escovinhas e os porquinhos da Ilda façam o diagnóstico da saúde onde a avó Mariana (em vez do Covid) está com uma valente bezana e o avô Anacleto tem problemas no olho e no reto.
Os patetas, sem sentido de oportunidade, só pensam em tramar Roger Rabbit, tentando abocanhar o melhor osso, saído do matadouro em ruínas, que nem Eubulides na sua melhor tirada lhes ganha: “Então o homem diz que está a mentir. Afinal o que ele diz é verdade ou é mentira?”.
De uma coisa tenho absoluta certeza. Se a coisa não resultar aqui-d’ei-rei. Os maus fígados vêm ao de cima e o insulto, sem ser assexuado, torna-se ferramenta de retórica, sem perceber que, ao descarregar a pressão, o problema não fica resolvido. Bem pelo contrário, cria outro e isso, quer se goste quer não, é abuso moral sobre o interlocutor que passa a ser vítima. Nietzsche explica isso muito bem.
Neste sítio do pica-pau laranja, os burantinos do sistema, os shreks de avental são orquestrados pelo Pinóquio (que Gepeto não controla) onde a rolha de todos os rolhas tenta tapar o gargalo ao povo contando, apenas e tão só, a sua verdade.
No século XIX, o senador americano John Randolph, em plena discussão no plenário, disse cara a cara ao seu adversário, o secretário da Fazenda Richard Rush: «Nunca uma competência tão baixa e medíocre foi tão bem recompensada, nem quando o cavalo de Calígula foi nomeado cônsul».
Com a única condecoração ao peito, a medalha de mérito evidente, sinceramente, não gostaria de citar aqui Joseph de Maistre, que disse «cada povo tem o governo que merece». Em Portugal, diz-se que existe o trigo e o joio. Há que saber distingui-los e a sabedoria popular acrescenta ainda que andam por aí lobos com pele de cordeiro.
Neste autêntico charme da burguesia, estejamos atentos, despertos e permanentemente interessados não vá o diabo (sem Prada) tecê-las. É tão simples quanto isto. Está ao alcance de uma simples cruzinha. Para que a Pátria mia não seja efetivamente enganada e, pior que isso, traída.
Os burantinos do sistema e os shereks de avental
Em Portugal, diz-se que existe o trigo e o joio. Há que saber distingui-los e a sabedoria popular acrescenta ainda que andam por aí lobos com pele de cordeiro.