Ora dá cá um e a seguir dá outro

“Um tipo ausenta-se destas páginas por uma semana e o que mudou? Nada. Apesar de situações terem acontecido e afirmações terem sido proferidas, o mundo está praticamente na mesma, com excepção da chuva.”

Um tipo ausenta-se destas páginas por uma semana e o que mudou? Nada. Apesar de situações terem acontecido e afirmações terem sido proferidas, o mundo está praticamente na mesma, com excepção da chuva.
O ministro Lavrov foi à ONU dizer que a Rússia continua a ocupar e a atacar território da Ucrânia para acabar com a guerra que está a acontecer por lá, e os ministros de António Costa foram à televisão dizer que vão ocupar casas para acabar com a miséria que acontece por cá.
Em ambas as situações, os intervenientes foram recebidos com sonoras e francas gargalhadas que me causaram profunda inveja, porque não tenho talento ou criatividade suficiente para chegar perto da comicidade das declarações vindas do Kremlin ou de São Bento.
Note-se que não pretendo com isto dizer que a guerra pelas ruas das cidades ucranianas e a luta pelas casas nas cidades portuguesas tenham a mesma gravidade. Mas que, num caso e noutro, os pretendentes a ocupantes têm uma desfaçatez parecida, isso têm.
Noutro fórum, o director do FBI anunciou que há fortes indícios de o vírus da Covid-19 ter sido libertado de um laboratório chinês. Não sei se este senhor sente que tem falta de atenção nos Estados Unidos, mas julgo que estará a fazer de propósito para ser alvo de chacota numa das rubricas facetas nas manhãs da rádio portuguesa.
Um estudo, publicado numa revista onde habitualmente os cientistas se matam para publicar, revela que afinal a nossa directora-geral da Saúde tinha razão logo no primeiro dia da pandemia, porque as máscaras não protegem assim grande coisa. Mais uma prova que dar ouvidos ao Presidente ou ao primeiro-ministro habitualmente dá asneira, mas seguir as indicações de ambos é potencialmente catastrófico.
Mas escusam de pensar que alguma vez haverá um lamento pelo sucedido. Afinal de contas, só impediram as crianças de ir à escola, não cometeram nenhum acto tenebroso como escrever livros para a petizada ler. Corrigir o Roald Dahl, isso sim, é que é prioritário para sermos mais livres.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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