Um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos – financiada pelo grupo Jerónimo Martins, detentor do Pingo Doce – propôs há dias «uma aposta económica no litoral». Liderados por Fernando Alexandre, da Universidade do Minho, os autores do estudo propõem «um novo modelo de desenvolvimento económico» com a seguinte premissa: «É preferível apostar nas regiões com melhores indicadores, que estão no litoral entre Sines e Viana do Castelo».
Há logo uma contradição nos termos: se é uma proposta para priorizar o investimento no litoral, então este modelo económico não tem nada de novo! Apostar no litoral, centralizar cada vez mais o país à volta do Porto e, sobretudo, de Lisboa, é mais do mesmo.
Os resultados desta estratégia estão à vista: um país pobre, desequilibrado, desigual, com diferenças abissais de riqueza entre o litoral e o interior apesar de, na maior parte do território continental, a distância do mar à fronteira com Espanha ser inferior a 200 quilómetros. Portugal consegue a triste proeza de, num território pequeno, ter todos os males do ultra congestionamento nas duas áreas metropolitanas e, ao mesmo tempo, todos os males da desertificação nas regiões do interior.
Fernando Alexandre não é um desconhecido, embora por más razões: secretário de Estado da Administração Interna do Governo de Pedro Passos Coelho, conseguiu incompatibilizar-se, primeiro com o ministro Miguel Macedo, depois com a ministra Anabela Rodrigues. Conhecido pela sua sobranceria face às forças e serviços de segurança, foi com naturalidade que em 2015 viu a sua exoneração confirmada pelo então primeiro-ministro.
A Fernando Alexandre e aos donos do Pingo Doce que lhe financiaram o estudo é preciso dizer duas coisas. A primeira é que o centralismo é a verdadeira doença que limita o potencial de desenvolvimento de Portugal. A segunda é que a descentralização de investimentos e a regionalização político-administrativa produziram bons resultados em todos os países em que foram experimentadas. Apostar nas zonas menos desenvolvidas dos países europeus resultou sempre em mais coesão territorial, menos assimetrias, maior riqueza nacional e, por via disso, contas públicas mais equilibradas.
Já a condição de regiões-fantasmas a que o estudo quer condenar o interior de Portugal é mau para o país como todo. Sugere-se, por isso, que Fernando Alexandre faça com a Fundação Francisco Manuel dos Santos o que fez com Passos Coelho: peça a demissão, volte para a universidade e estude melhor, que bem precisa!
* Dirigente sindical