Nos anos anteriores, com a chegada do outono, os alunos da primeira fase de ingresso ao ensino superior já se tinham matriculado, os da segunda fase já tinham feito as candidaturas às vagas sobrantes e os veteranos já praxavam os caloiros. Mas este ano é tudo diferente. A pandemia do Covid-19 impôs uma crise de consequências desconhecidas e o atraso excecional no regresso à escola, e ainda mais no ingresso ao ensino superior.
Os candidatos foram mais do que nunca (62.930) e 81 por cento foram colocados na primeira fase de acesso ao ensino superior público – 50.964 alunos. Nunca foram tantos e nunca tantos ficaram colocados na primeira fase. Sobram mais de seis mil vagas para 12 mil alunos que se candidataram à segunda fase.
Foram mais 11.467 candidatos do que em 2019, um aumento extraordinário de 22 por cento, e dos quase 51 mil alunos colocados, 30.671 ingressaram em universidades e 20.293 nos politécnicos. Nas universidades o crescimento foi de 12 por cento e os politécnicos tiveram um aumento de 18 por cento.
Como sempre, as grandes instituições foram as que tiveram maior capacidade de atração, em Lisboa e no Porto. O litoral continua a ter mais gente, a propor maior oferta de vagas e a receber mais candidatos. As medidas que foram anunciadas para contrariar o centralismo ou a litoralização foram sendo esquecidas e o Portugal do ensino superior continua a cair para o mar, como tudo o resto. A discriminação positiva para o interior, tantas vezes apregoada, foi de novo metida na gaveta, este ano à boleia do aumento de candidatos ao ensino superior.
A Universidade da Beira Interior (UBI), com mais de 95 por cento de ocupação de vagas – 1.275 novos alunos que esgotaram as vagas em 22 cursos –, confirmou a sua afirmação entre as melhores universidades portuguesas. Para a UBI, o facto de estar no interior pode gerar dificuldades, mas não é estigmatizante, nem impedimento para estar entre as melhores. A sua capacidade de atrair novos alunos é o resultado de muitos anos de trabalho e da evidência técnica e científica. O anátema da interioridade não impediu a UBI de crescer e de conquistar um lugar entre as universidades novas de maior afirmação internacional.
Num ano em que os politécnicos conseguiram crescer 18 por cento e ser primeira opção para 20 por cento dos candidatos, o Instituto Politécnico da Guarda (IPG) assegurou na primeira fase mais de 50 por cento das vagas – o que não acontecia há muitos anos. O IPG atraiu na primeira fase 513 alunos e poderá ainda ocupar muitas das vagas atribuídas na segunda. Ou seja, o Politécnico da Guarda terá os seus melhores resultados em muitos anos. Uma lufada de ar importante para uma instituição que passou por muitas dificuldades nos últimos 20 anos, muitas vezes por problemas que iam muito para além daquele que era o seu objeto e foco, o ensino. Com paz interna, novos cursos, capacidade de atrair alunos internacionais e qualificação variada, mesmo em tempos de pandemia, o IPG tem hoje uma nova energia que permitirá o regresso do otimismo à instituição.
O desenvolvimento da região será aquilo que as pessoas e instituições possam fazer por ela. Ficar à espera que o poder central, que os outros, façam alguma coisa por nós é um erro – a região é ostracizada há séculos. A UBI e o IPG são os dois polos de conhecimento e promoção do desenvolvimento mais importantes para a região, o seu crescimento e afirmação serão determinantes para o nosso futuro coletivo. Olharmos para o sucesso da UBI e para a recuperação do IPG é focarmo-nos no essencial e sermos otimistas, mesmo quando tudo o mais é sombrio e carrega uma carga negativa.