Setembro habituou-nos ao regresso ao trabalho, às aulas, à política… enfim, à rotina que gostamos de confirmar numa profusão de fotos estivais sempre idênticas entre si. Obviamente que os regressos deste ano, podendo apresentar algumas semelhanças com os de outros, por via dos tempos que se vivem, nada de normal terão. As férias escolares acabaram antes do ano letivo e as escolas reabrem com a segunda fase da época de exames, muitos não têm trabalho para voltar e os políticos hesitam nos temas para o arranque da atividade partidária. Não será, portanto, de admirar que entre medidas sanitárias, económicas e políticas, ninguém se decida sobre qual bandeira promover a assunto do momento. O que, mais do que uma série de estandartes enrugados, revela o cheiro a mofo dos papéis que nos embrulham. Na periferia das grandes cidades, ou melhor, na área de Lisboa, uns querem resolver as condições de vida dos tantos que lá habitam falando de casas, outros de acessibilidades, outros de saúde e outros de educação. “Falando”, porque nestas, como noutras coisas, parece que falar basta e há sempre quem acredite que, mesmo ameaçada pelo bicho mau, a sua vida vai melhorar apenas a partir de discursos confluentes com os termos do seu próprio pensamento. Na maioria das vezes, ainda mais redutor do que a monocromia do reduzido vocabulário que o articula.
Aos poucos que habitam no Interior, que já se estende da fronteira até a uma vintena de quilómetros do mar, à falta de problemas de habitação, acessibilidades, saúde e educação, falam de desertificação, esquecimento por parte do Governo central e consequente falta de oportunidades. Felizmente, gente com solução para tudo isto é coisa que por aqui parece não faltar. Assim, venham os correligionários da capital dar-lhes uma mãozinha, que não há cá desertificação, abandono ou esquecimento que os demova de levar por diante os versos deste país ainda ir cumprir o seu ideal. Seja lá qual for. Desde que não passe por os comboios chegarem a horas, as consultas serem na data prevista, os serviços funcionarem eficientemente e os direitos dos cidadãos serem escrupulosamente respeitados, bem pode ser qualquer um. Nuns casos, uma rotunda, como que a chamar o trânsito que vai escasseando, noutros, uma escola nova, como que a convencer os dois ou três casais, em idade fértil, da localidade a procriar vezes que cheguem para justificar o investimento. Caso já haja rotundas e escolas que bastem, também se podem remodelar as existentes. Ou, melhor ainda, construir outras e deixar aquelas ao abandono até à próxima oportunidade. Depois, quando as coisas continuarem iguais, sempre podem arguir que a culpa é do oceano, que teima em ficar longe e em não querer fazer deste crescente deserto a praia que todos parecem ambicionar. Bem, consoante as simpatias partidárias, a culpa também pode ser deste ou doutros governos centrais, porque os locais são sempre gente tão boa, que nem aos santos da porta esquece o milagre de os ir entronizando juntamente com os problemas que juraram resolver.