O novo Governo e o interior

Escrito por Joaquim Brigas

“São palavras lúcidas! E, sobretudo, são palavras que fazem muito mais sentido quando se referem aos politécnicos do interior do que quando se dirigem às universidades de Lisboa e do Porto. A questão é que não se conhece o que pensa Pedro Teixeira sobre os politécnicos, nem sobre a relevância que estes têm para o interior.”

Não é ainda claro qual é a prioridade política que o interior irá constituir para o novo Governo de António Costa que acaba de tomar posse. No elenco dos ministros, e também no dos secretários de Estado, há sinais contraditórios.
A recondução de duas ministras com fortes raízes na região da Guarda – Ana Mendes Godinho e Ana Abrunhosa – constitui um bom sinal para os agentes locais, os quais continuam a dispor de duas interlocutoras influentes e muito qualificadas para apresentarem projetos estratégicos. No caso de Ana Abrunhosa, aumentou as áreas da sua competência, passando a tutelar também a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Regional.
Noutras áreas, porém, é incerto o sentido das mudanças. É o caso dos novos governantes da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. A nova ministra, Elvira Fortunato, é uma cientista pioneira na eletrónica sustentável e transparente, tendo sido apontada como forte candidata ao Prémio Nobel da Física. Não se lhe conhece, contudo, pensamento sobre o papel que o ensino superior, nomeadamente os politécnicos, sobretudo os do interior, podem desempenhar no desenvolvimento e na qualificação dos territórios de baixa densidade.
Algo semelhante se pode dizer do novo secretário de Estado do Ensino Superior, Pedro Teixeira, embora sobre este exista pensamento escrito e publicado sobre o setor que vai tutelar. Diretor do Centro de Investigação de Políticas de Ensino Superior (CIPES), ex-vice-reitor da Universidade do Porto – para além de ter sido, até ao passado fim de semana, o assessor do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para o ensino superior – Pedro Teixeira distingue-se por assinalar que o financiamento público do ensino superior em Portugal está estagnado desde 2008.
Por ocasião da Convenção do Ensino Superior, organizada em 2019 pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), Pedro Teixeira sustentou que, «se Portugal não reagir [à estagnação do financiamento], iremos ter uma situação cada vez mais periférica em termos de recursos humanos».
São palavras lúcidas! E, sobretudo, são palavras que fazem muito mais sentido quando se referem aos politécnicos do interior do que quando se dirigem às universidades de Lisboa e do Porto. A questão é que não se conhece o que pensa Pedro Teixeira sobre os politécnicos, nem sobre a relevância que estes têm para o interior.
Pedro Teixeira vai suceder a João Sobrinho Teixeira, que foi um secretário de Estado com perfeita consciência da importância dos politécnicos do interior para o desenvolvimento equilibrado do país.
Esperemos, pois, que, tal como Sobrinho Teixeira, Pedro Teixeira tenha agora presente a importância do ensino superior como fator de crescimento económico, de criação de oportunidades individuais e de dinamização e inovação económica e social. Ele próprio sublinhou, na Convenção do Ensino Superior, «o elevado retorno que o investimento em ensino superior produz em Portugal, quer em termos coletivos, quer em termos individuais». Haja esperança!

* Presidente do Instituto Politécnico da Guarda

Sobre o autor

Joaquim Brigas

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