O Inverno do nosso desconfinamento

Escrito por Pedro Narciso

«De tacho em punho, longe do frio da Praça Velha, com chinelos e meias do Lidl até ao joelho, máscara de lantejoulas e camisola do Licor Beirão, o Réveillon terá mais batida que um espetáculo dos Stomp»

Não foi necessário chegar à estação mais fria para contemplar a cidade, vestida da sua mais bela indumentária. Uma linda homenagem da Guarda a Diego Maradona. Toda branquinha. O frio que confinava às lareiras todos os que nela viviam, com estalactites ameaçadoras a cada beirado, não passa hoje de um postal a preto e branco em grupos de nostalgia. A hodierna forma de matar o bicho passa pelos conselhos da Oxford. Com metade da dose, tratada em qualquer tasca, o resultado é um lindo serviço bem acima de 90% das vezes. Independentemente do resultado, poderão dizer com propriedade, tal como Quim Barreiros depois de saber que se encontrava infetado, “Estou rijo!”.

Sabemos muito bem o que a China fez no Inverno passado. De pangolins na brasa, a morcegos na caldeirada, há nove meses que nos colocam de olhos em bico e nos comem de cebolada com o seu milagre dos números. E se no início parecia boa ideia desinfetar as ruas da cidade, com o mesmo grau de evidência que Miguel Sousa Tavares falou de “blockchain” como forma de bloquear “fake news”, já percebemos que nem o truque do pano e da garrafa da DGS consegue ludibriar o Coronavirus eternamente. Não é com vinagre que se apanham vírus. É com troca de compotas, na horta da vizinha.

Para os mais esotéricos, ou pessoas que não estiveram a jogar ao stop ou no Instagram nas aulas de Ciências, a vacina estará disponível a partir do dia 27. Mas há receios do crescimento de cauda, surgimento de voz de Lidl e relatos de malta confundida com militantes de extrema-direita, com o braço no ar desde a sua administração. Ou não fosse a vacina da Pfizer. Caso a mesma já estivesse disponível em Portugal, conseguiríamos justificar o número de ventriloquismo na Assembleia Municipal. Afinal, não é só André Ventura que quer entrar um pouco em cada um de nós. Há quem meta mesmo uma mão por trás, até à boca.

Depois do melhor miradouro para deteção de telhados devolutos por 700.000 euros, recebido no seu aniversário, a cidade também é merecedora de uma prenda de Natal. Ainda que não haja uma luz ao fundo túnel, nestes dias de nevoeiro renasce a esperança. Pela fixação que os belgas têm demonstrado em orgias gay, tenho a certeza que a locomotiva da nossa rotunda irá aparecer algures por Bruxelas.

Vindos do estrangeiro, ou de outro ponto do país, o controle dos movimentos dos cidadãos tem sido a arma preferencial na luta para a contenção do vírus. Na ânsia da sua reestruturação, fusão ou extinção, o presidente Marcelo ainda irá sugerir que a fiscalização desses movimentos entre concelhos seja realizada pelo SEF, convicto que haverá muita gente que vai conseguir, desta forma, ir passar o Natal à terra.

De tacho em punho, longe do frio da Praça Velha, com chinelos e meias do Lidl até ao joelho, máscara de lantejoulas e camisola do Licor Beirão, o Réveillon terá mais batida que um espetáculo dos Stomp.

Ninguém atirará foguetes, pois para estoirar dinheiro nos céus já temos a TAP. A restauração, longe do glamour de outros anos, está em “final countdown” desde março, esperando o tiro final da Bazuca. Agora é o Inverno do nosso descontentamento, tornado em glorioso Verão por esta vacina da Moderna!

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Pedro Narciso

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