Nos últimos anos, a cidade da Guarda procurou afirmar-se no território regional e nacional, fruto de uma nova estratégia e visão política, assumindo protagonismo e marcando passos firmes para o seu desenvolvimento. O saneamento financeiro e o conjunto de ações desenvolvidas nesse sentido, entre o final do ano de 2013 e meados do ano de 2015, foi crucial para mudar o rumo dos acontecimentos e colocar a Guarda no radar do investimento. Mas também se reorganizou, dignificou e reclassificou o corpo de funcionários da autarquia, como principais artífices de uma gestão comprometida com a cidade, os cidadãos e as suas necessidades.
A Guarda porque passou a ser um município de confiança, que cumpria com os seus compromissos, alcançando um lugar cimeiro dos municípios com o melhor desempenho financeiro (vide Anuário Financeiro dos Municípios).
A reabilitação urbana, ampliação da plataforma logística, melhoria da rede viária e dos equipamentos públicos, investimentos no campo sintético, obras de reabilitação e melhoramento na Biblioteca, no Teatro Municipal, no Centro de Estudos Ibéricos, no Museu da Guarda e numa programação cultural ambiciosa. Mas também na realização de iniciativas de impacto e projeção, no plano turístico como foi a Feira Ibérica de Turismo (FIT), e no plano da promoção de economia local e produtos endógenos como foi a Feira Farta. E ainda a aposta em medidas de dinamização do turismo de natureza, percursos pedestres com a projeção e conclusão da grande obra dos passadiços do Mondego que é hoje uma âncora (ainda subaproveitada) de vitalidade económica.
A Guarda assumiu a sede da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela, recolocando-a como palco principal da ação de políticas regionais partilhadas entre todos os municípios da região. A Guarda ficou no radar do investimento com mais de 700 postos de trabalho criados. A Guarda é a cidade do interior como mais poder de compra, com um tecido empresarial forte e dos mais exportadores da região Centro. Sendo de destacar que, apesar dos Censos concluírem pela perda de população no Distrito, o concelho da Guarda aumentou em 1000 novos cidadãos, entre os anos 2019 e 2021 (Vide Fundação Francisco Manuel dos Santos).
Para nós, enquanto autarcas desta terra que nos viu nascer, a Guarda liderava um ciclo que conduziria a um período de progresso. Os sinais referidos assim o demonstravam à nossa comunidade.
A Guarda deve continuar, inevitavelmente, nessa senda. A previsão da execução de um conjunto de novas iniciativas que, em complementaridade com o PRR, bem como o novo quando comunitário 20/30, teriam necessariamente de ter uma consequência positiva no futuro e posicionamento da Guarda no todo nacional.
Os novos investimentos na saúde com apoio do setor privado, o investimento na ampliação do negócio de empresas que não tiveram sequência; mais de 20 milhões aprovados para apoio de uma multinacional já sediada na Guarda, e que se perderam, a requalificação que estava em curso dos edifícios da Praça Velha, bem como a requalificação prevista da Casa da Legião com um projeto vanguardista e de futuro pela mão do ilustre Arq. Souto Moura, que previa uma importante galeria de arte contemporânea.
O Porto Seco, polémicas à parte, não beneficiou de nenhum ato de concretização. A perda do interesse na construção do centro intermodal de transportes, que previa a interface urbana do comboio e dos transportes interurbanos e os urbanos criando um “corredor verde” com transporte gratuito entre a baixa da cidade e a parte alta. Incluindo novas formas de mobilidade urbana e mais acessíveis para a população idosa e de mobilidade reduzida.
Mas também a relação proativa, uma visão progressista para o desenvolvimento das nossas aldeias em articulação com as novas realidades e necessidades dos turistas, novos habitantes, a sua riqueza natural, etnográfica, a atração de nómadas digitais a pensar nas “novas aldeias urbanas”. A candidatura a Capital Europeia da Cultura que, independentemente do seu resultado final, criou bases e projetos locais e intermunicipais que corporizavam um importante dinamismo social e cultural que, continuados, dariam certamente bons frutos para o futuro.
A Guarda estava no caminho de uma política de investimento, de desafio constante da criatividade, empreendedorismo, na capacidade crítica construtiva e o aproveitamento das sinergias existentes, no diálogo entre a sociedade, as empresas, as escolas, etc. Tudo sem amarras, preocupações subjetivas unicamente para alcançar e manter o poder.
Mas essa Guarda de futuro tem sofrido um rude revés nos últimos dois anos. A política de governar para ganhar eleições afastou-nos, claramente, do foco do desenvolvimento. À governação não basta mostrar que se está perto para auscultar as dificuldades. Exigem-se soluções, essas que não passam apenas por dar o pão. É preciso apontar o caminho e responder: para onde vamos? Como vamos? Como fazemos? E onde queremos chegar? Se colocarmos estas questões a qualquer guardense dificilmente conseguirá responder. Não há rumo definido, não há consistência política para guiar o destino da nossa cidade.
A Guarda não pode perder mais tempo. E todos somos necessários para construir uma cidade com futuro, que assuma, de facto, o seu estatuto formal de capital, que desenvolva políticas efetivas para fixação de população, reforço de investimento e emprego, em colaboração interdisciplinar das forças vivas e críticas da região, maior articulação entre as políticas nacionais e locais em áreas como a saúde e envelhecimento ativo. Reforçar a nossa cooperação ibérica, também para as áreas da saúde e área social, da logística, sem esquecer os laços diretos com os serviços e instituições europeias e internacionais.
Só “rasgando” novos horizontes, pensando nas gerações vindouras e no papel e o espaço que a Guarda vai querer assumir, podemos definir as ações concretas e adequadas a desenvolver para preparar o nosso futuro coletivo.
*Advogado. Ex-Presidente, ex-Vice-Presidente e atual vereador do PPD/PSD da Câmara Municipal da Guarda.