Novo Governo sem estado de graça

“A Fernando Alexandre, que foi colunista do Jornal O INTERIOR em 2007 e 2008, auguramos o maior sucesso e desejamos muita sorte”

1. O Governo de António Costa acabou! E acabou por todas as razões conhecidas e repetidamente comentadas durante a longa maratona eleitoral que tivemos de 7 de novembro a 10 de março. Mas, muito para além de todas as razões de ordem política, judicial ou de governança, oito anos depois… os portugueses estavam fartos do Governo socialista. António Costa é melhor político do que os seus sucessores (no governo ou no PS), mas o desgaste, a confusão, a inflação, a crise da habitação, etc., ditaram a vitória tangencial da AD.
2. Numas eleições em que o PS não foi “castigado”, conquistando 78 deputados, tantos quantos tem o PSD, confirma-se que os eleitores votam no candidato a primeiro-ministro, independentemente de quem são os aspirantes a deputados pelos círculos distritais. Ainda assim, na Guarda, não podemos deixar de repetir que a AD ganhou, mas ficou aquém das expetativas. E que as “conquistas” de Ana Mendes Godinho (UEPS, Porto Seco, CEIS, Linha de Barca d’Alva ou promessa de abolição das portagens na A23 e A25) não foram premiadas: a cabeça de lista no distrito e desejada candidata do PS à Câmara da Guarda perdeu só no concelho da Guarda mais de dois mil votos, comparativamente com as eleições de 2022, passando de 9.936 votos (45,61%) para 7.804 (31,47%), enquanto no distrito perdeu quase sete mil, passando de 34.685 votos (45,10%) para 27.133 (31,88%) – no país, o PS resistiu muito melhor: teve 28% dos votos, enquanto a AD ganhou com 28,84%.
3. Viva o Governo de Luís Montenegro! O novo primeiro-ministro não vai ter estado de graça. O novo Governo já está, desde a tomada de posse, em estado de ameaça (como escreveu João Miguel Tavares). Não tem tempo, nem deputados, para respirar e calmamente decidir, definir, planificar… Mas tem dinheiro graças à extraordinária herança do superavit cozinhado por Costa & Medina e ao PRR que vai promover mais uma ressaca de fundos comunitários (que para Nuno Palma são “As Causas do Atraso Português” (livro editado pela D. Quixote).
4. Como é habitual, diz-se que o Governo é fraco e os ministros são segundas escolhas ou emanam do partido (de onde é que deviam emanar?). Mas se é verdade que Leitão Amaro, Pinto Luz ou até Pedro Duarte só estão no Governo por fidelidade canina a Montenegro, era óbvio que Paulo Rangel fosse governante (nos Negócios Estrangeiros ou noutra pasta); José Manuel Fernandes era o único deputado no Parlamento Europeu reconhecido em Bruxelas e é lá que se trata da Agricultura; Maria da Graça Carvalho (que foi ministra há 20 anos e é na Europa uma das pessoas que mais sabe de energia…) ou Dalila Rodrigues (tem um currículo e experiência na Cultura como poucos) são escolhas excelentes; Miranda Sarmento, Pedro Reis, Castro Almeida ou Margarida Blasco terão de confirmar as capacidades e prestígio que todos lhe reconhecem; Rita Júdice (descendente da família Alarcão, da Guarda) tem o conhecimento empírico que poderá mudar o paradigma da Justiça; Ana Paula Martins, depois de gerir o maior hospital do país (o Santa Maria) tem a missão de nos tratar da Saúde, salvar o SNS e levar paz aos hospitais (e médicos, técnicos e novos equipamentos…); e Fernando Alexandre, a grande surpresa das escolhas de Montenegro, que antes de tomar posse já tinha a cabeça a prémio, vai liderar o superministério da Educação, Ensino Superior e Inovação. A Fernando Alexandre, que foi colunista do Jornal O INTERIOR em 2007 e 2008, auguramos o maior sucesso e desejamos muita sorte. Para o bem de todos, e mesmo não havendo tempo para estados de graça, o novo Governo tem menos de um ano para mostrar o que vale, e esperemos que valha muito mais do que aquilo que se diz…

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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