Mobilidade e transportes

“A mobilidade na Guarda tem de se fazer com novos sistemas de transporte coletivo, em pequenos autocarros elétricos, e serem proibidos os grandes autocarros no centro urbano.”

Há muito que os transportes urbanos na Guarda funcionam com péssima qualidade. Com a justificação de que se aguardava a decisão judicial sobre o concurso público para a concessão dos transportes (e a respetiva reclamação), durante os últimos anos esperava-se que a solução de mobilidade e transporte coletivo na cidade melhorasse. Porém, na semana passada entrou em vigor um novo plano de percursos e horários que foi um caos. As pessoas ficaram nas paragens à espera de autocarros que não chegaram e os alunos chegaram atrasados às aulas. Sérgio Costa reagiu ao cabo de três dias, para anunciar que o novo plano era um equívoco e que, ao quinto dia, regressavam os anteriores horários e percursos. Durante cinco dias, os utentes ficaram nas paragens, sem esclarecimentos, e para saberem o horário e em que local podiam apanhar um autocarro tinham de ir aos Paços de Concelho pedir informação, pois nas paragens não foi afixado qualquer horário. Segundo o executivo, a culpa do caos instalado foi do anterior executivo municipal (da presidência de Carlos Chaves Monteiro) que preparou o concurso público com um caderno de encargos e alterações à “espinha dorsal” da rede de forma errada e incongruente. Talvez seja, mas mais importante do que andar à procura de culpados é função do executivo (de Sérgio Costa) procurar soluções e ter a capacidade de antecipar problemas por forma a implementar as melhores opções.
E as melhores soluções de mobilidade não são as preconizadas pelo anterior executivo municipal e definidas para o concurso público – e que agora estão em causa. A mobilidade urbana não pode continuar a ser feita como no século XX.
O centro da cidade da Guarda está cheio de carros; as pessoas, para irem trabalhar, têm de recorrer ao automóvel por falta de alternativa; os pais têm de utilizar o carro para levarem os filhos à escola; quem trabalha na PLIE nem sequer pode ir de autocarro, pois não há transporte de passageiro para a zona empresarial… têm de ir de carro. Enfim, como em tantas outras coisas, a mobilidade na Guarda é arcaica e o serviço público de transportes ficou parado no tempo.
A mobilidade na Guarda tem de se fazer com novos sistemas de transporte coletivo, em pequenos autocarros elétricos, e serem proibidos os grandes autocarros no centro urbano. Deveria haver uma ciclovia no centro da cidade que pudesse ligar os principais serviços (está em construção uma pedovia/ciclovia junto à Viceg – Via de cintura externa que servirá apenas para lazer sem qualquer impacto na necessária redução da utilização do automóvel no dia a dia das pessoas…).
As soluções de mobilidade para contrariar o problema da orografia da Guarda há muito que deveriam ter sido pensadas e implementadas. Infelizmente não foi assim e, estranhamente, continuamos a discutir o transporte de passageiros em autocarros de 50 ou 60 lugares, quando devíamos estar a discutir a implementação de novos meios de transporte, sustentáveis e amigos do ambiente, mecânicos ou elétricos, e gratuitos.
Há 20 anos, no contexto da intervenção Polis, houve o atrevimento de projetar um “monorail” para ligar a Estação à zona alta da Guarda (ao centro histórico, no antigo quartel do Bombeiros Voluntários). Infelizmente, o projeto não foi acarinhado, nem defendido. O custo “astronómico” (seis milhões de contos) matou a ideia, quando esta podia ter sido uma alternativa determinante para a mobilidade urbana: um “monorail”, um pequeno comboio de superfície, uma carruagem com linha dedicada, com percurso que ligasse a Estação ao centro histórico, com paragem na Póvoa do Mileu – o resto podia fazer-se a pé ou de bicicleta, sem dificuldade. Mas numa cidade que demorou quatro anos a trazer uma locomotiva para ornamentar uma rotunda não se podem esperar soluções futuristas ou sequer capacidade para projetar o óbvio, as soluções que resolvam o presente da vida dos seus cidadãos. A Guarda que um dia pensou no “monorail” morreu. Hoje temos uma cidade sem utopia, sem ideias, sem capacidade de resolver os problemas do presente e incapaz de projetar o futuro. Temos uma cidade cuja ambição é ser uma grande aldeia, que nivela por baixo e onde se projeta o desenvolvimento com a mesma perspetiva e o mesmo ideal que a mais recôndita das aldeias do concelho. Assim, morrem as aldeias e morre a cidade. É contra esta perceção que o presidente da Câmara da Guarda tem de definir novos horizontes, novas utopias e novos sonhos para a cidade.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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