Horas extra

Escrito por Diogo Cabrita

“O SNS promoveu métodos de medicina defensiva que acarretam protocolos e normas que aumentaram os exames complementares e as incertezas dos profissionais para dar altas. “

Os médicos estão zangados porque não querem fazer mais horas extraordinárias. Alguém se pode opor a esta reivindicação? Cumprido o meu horário vem o patrão e manda fazer mais horas, pagas, mas acima do meu contrato. Só faz quem quer! A isso se chama trabalho extraordinário. Isto é básico e não carece de bitaites ou opiniões.
Os médicos detestam Urgências sobretudo. Sim, porque se transformaram num caos graças à destruição do atendimento primário. Hoje qualquer pessoa que sente uma maleita por mais pequena que seja só tem uma porta de entrada no SNS – a Urgência. Imagine que trabalha com fruta e entram no mercado 1.500 pessoas por dia. Ou na loja de roupa com ritmo natalício todos os dias. Não se aguenta psíquica, nem fisicamente. E estamos a falar de saúde, de decidir sobre prioridades, em que o tema é vida e falta dela. Sabia-se que os salários baixos acarretariam fugas dos técnicos para o privado. Sabia-se que estender prazos de atendimento na medicina familiar carregava as Urgências. Sabia-se que reduzir o número dos que pagam taxas “facilitava” o acesso a Urgências. O PS retirou 6% de proventos do SNS ao acabar com as taxas, deu a informação errada que a saúde é de graça e não tem limites. O SNS promoveu métodos de medicina defensiva que acarretam protocolos e normas que aumentaram os exames complementares e as incertezas dos profissionais para dar altas. Não se construíram mecanismos de encaminhamento nem de resposta atempada. Não se promoveu a tecnologia como solução para consultas online. Os computadores hospitalares e a maioria dos programas lá instalados são dinossauros inadaptáveis à Inteligência Artificial. Deste modo as Urgências converteram-se na voragem caótica onde se espera e desespera. No final elas acabam por cumprir a sua função à custa da exaustão dos funcionários. Um auxiliar com salário mínimo é um recurso que não aumentou nos hospitais. A higiene em “outsourcing” não é chamada a aumentar a resposta à afluência. O número de camas por metro quadrado não permite retirar os doentes das ambulâncias. Mas este caos tem alguma coisa a ver com exclusividade? Esta falta de apoio aos médicos e enfermeiros melhora com a alteração do vínculo de trabalho? Claro que não!

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Diogo Cabrita

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