Esta semana, quero começar por manifestar o meu desagrado com a actuação do Ministério Público nas buscas que fez às instalações da sede do Governo na terça-feira da semana passada, porque não é aceitável que a sua actuação provoque a demissão do primeiro-ministro pouquíssimas horas depois de eu ter entregue a versão final da crónica à redacção do jornal. Tiveram todo o dia de segunda-feira, até eu me sentar para escrever, para ir a S. Bento, e deixaram para o dia seguinte para quê? Para eu passar a vergonha de as três pessoas que leram o Observatório (olá, Mãezinha) acharem que não tinha nada para dizer sobre a demissão do primeiro-ministro. Senhora Procuradora-Geral, para a próxima, tenha mais atenção aos prazos das redacções.
Entretanto, o primeiro-ministro pediu a demissão, o Presidente da República aceitou, e a turba socialista começou a estrebuchar com gritos lancinantes de “golpe de Estado”. Porque afinal não há acusação de corrupção, porque se encontrou uma gralha, porque o Ministério Público persegue os políticos, etc. Só lhes posso dar razão. Primeiro, é um golpe de estado ao retardador. Ao contrário dos golpes de Estado em África, onde o governante é muitas vezes morto à catanada, António Costa vai ser deposto. Daqui a seis meses. Parece que não tem condições de se manter no cargo, e por isso vai sair. Lá para o fim da Primavera. Segundo, não se entende por que razão um primeiro-ministro de um governo metido em dezenas de moscambilhas, com três ministros, um chefe de gabinete e um melhor amigo envolvidos em galambices e lacerdoscas, haveria de se preocupar. Se o Costa fosse mesmo gatuno, tinha ficado ele com os 76 mil euros e as garrafas de vinho caríssimas.
O ministro Galamba respeita pouca coisa, mas, pelo menos, acertou na calendarização ao demitir-se a tempo desta crónica ser escrita. Até domingo à noite parecia que Galamba era irredutível e inamovível. Ao falar de Galamba e Lacerda no seu monólogo hamletiano de sábado à noite, António Costa relembrou os portugueses a velha máxima socialista, “os amigos são só para as boas ocasiões, os ministros são para a vida toda”.
Agora, vem aí Pedro Nuno Santos, que gosta de brincar aos aviões. E que considera radicais os partidos que dele divergem em matérias económicas, mas considera aliados os partidos que discordam da própria existência de uma democracia liberal (eles dizem burguesa).
A solução para este país e para os portugueses já não é a emigração. É o êxodo.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia