E extinguiram-se

Escrito por Diogo Cabrita

“O legado dos homens é incomparavelmente mais importante para o mundo do que o dos cães. Não haveria nenhum destes cães se não os inventassem os humanos.”

A breve história do mundo deveria dizer: os humanos modificam o ambiente, transformam paisagens. Os humanos alteram os cursos dos rios e aplainam montanhas. A breve história do mundo deveria referir: os homens matam-se, mas não o suficiente pois reproduzem-se como poucos. Então os humanos são uma praga? um infortúnio? A breve história só podia ter sido escrita por pessoas. A história só existe porque há pessoas. A humanidade canta a beleza da terra, descreve-a em livros e pinta-a. O mundo diria que os humanos o endeusam! Os humanos carregam características tremendas, sendo difíceis de amar. Mas, se não fossem assim, não eram pessoas. Refilam, protestam, discordam, fogem dos carreiros, inventam e criam coisas novas. O legado dos homens é incomparavelmente mais importante para o mundo do que o dos cães. Não haveria nenhum destes cães se não os inventassem os humanos. A detalhada história da humanidade diria que um caniche ou um Chihuahua não sobreviveriam em selva alguma. Já dos gatos a realidade é bem diferente. Predadores natos eles se reproduziriam, matariam tudo o que mexe e tem menos de dez cms, e acabariam por se adaptar. Aos homens se deve o toiro das corridas de toiros. Aos humanos temos de atribuir as galinhas brancas dos aviários. A espécie, para sobreviver sem fome, percebeu que tinha de evoluir num sentido de uma ferocidade inovadora. A história do mundo falará das varas, manadas, cardumes, aviários que os humanos produziram para criar seus excessos alimentares. Uma coisa feroz e violenta que permite a alimentação de quase oito mil milhões de criativos, pensadores, e religiosos habitantes da terra. Porque se viram para Deus estas criadoras que cumprem uma missão divina? Eles mudam a paisagem, constroem prédios até às nuvens, habitam desertos e neves que deviam ser inóspitos. Eles voam, navegam, comunicam sem carecer de se ver ou tocar. Eles arquivam informação e escrevem sonhos e fantasias. São tenebrosos e apocalípticos, fizeram desaparecer centenas de outros habitantes da Terra, desmataram florestas, abriram canais e misturaram águas antes intocadas. A detalhada história do mundo falará das bombas e das guerras, dos morticínios e das chacinas. Haverá um capítulo que explicará como toda a inteligência era intolerante e como todas as ideologias eram evangélicas. Todos desejavam convencer os restantes das suas certezas. Assim um dia a breve história da humanidade dirá que os humanos que habitaram na época de um dos aquecimentos da Terra seriam extintos como os dinossauros. Eram inteligentes, criativos, intolerantes e mataram-se. A Terra recuperou nos milhares de anos seguintes.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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