Durante a entrevista que André Ventura deu a Miguel Sousa Tavares fiquei preocupado com o meu nível de racismo, ao dar-me conta de que não tenho amigos pretos. Julgaria eu que tal facto pudesse estar relacionado com a inexistência de pessoas de pele mais escura ao meu redor, quando me deparo com a triste realidade: sem amigos pretos, sou um perigoso tipo de supremacista branco. Da mesma forma, como nunca tive uma namorada que fosse homem, ou uma mãe que fosse freira, se percebe de forma transparente a minha transfobia e o meu anticlericalismo.
Para memória futura, se algum dia a pergunta feita por MST for um teste de despistagem de xenofobias e outras intolerâncias, aqui fica a minha resposta: «É verdade, não tenho amigos pretos, mas paneleiros são uns dois ou três. Além disso, tenho um primo vegetariano que vive com uma mulata bem boa, e que é fressureira ao fim-de-semana. Agora, pretos que sejam meus amigos, por acaso, não. Tenho vizinhos chineses, uma sobrinha intolerante à lactose e até tenho amigos que são comunistas. Realmente, nem me importo de escrever com esferográficas de tinta preta, amigos dessa cor é que não tenho mesmo. Não é por não querer, é por não conhecer. Mas um amigo meu é poeta, outro é do PS e alguns até são estrangeiros. E veja bem, embora não tenha estabelecido amizade com nenhum preto, não discrimino ninguém. A prova disso é que sou próximo de alguém que é psicanalista e até acredita no Outro lacaniano».
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia