Numa semana em que se está a dar mais um passo na direção da desejada normalidade fará todo o sentido continuar a refletir na nossa responsabilidade individual e coletiva nesse processo.
Um pouco na linha do que escrevemos na última crónica, é preciso que saibamos assumir cabalmente o nosso papel na construção do futuro e na criação de condições de cooperação objetiva, responsável e consequente.
Exigindo, simultaneamente, das lideranças uma estratégia clara, abrangente dos reais e verdadeiros interesses da comunidade; um diálogo franco com os diferentes interlocutores ou parceiros; uma demonstração inequívoca de que estão a trabalhar em prol de todos os cidadãos e não em função de planos subordinados a agendas pessoais ou políticas.
É importante, fundamental, concentrar sinergias e rentabilizar potencialidades humanas e técnicas; será através do somatório de todos os contributos – mesmo os considerados mais modestos – que poderemos abrir novas vias para o desenvolvimento social, económico e cultural, articulado com uma desejada qualidade de vida num território onde há gente empenhada em dar o seu contributo.
Aqui, no interior, encontramos exemplos expressivos e sonhos que em muito podem valorizar a cidade e a região. É o caso de João Pena, um guardense que tem abraçado a vida com uma dedicação plena à fotografia, sobretudo à arte da recuperação de antigas imagens; o que faz, diga-se, com inquestionável mestria.
Nesta cidade gostaria de ver criada uma Fototeca, que lhe permitisse «revisitar» a cidade no passado. «Uma fototeca seria um trabalho de sonho, pois sei que existe muita coisa “em gaveta” e merecia ser trabalhada e colocada aos olhos de todos». A Guarda, a região, tem de contar com gente válida, como é o caso de João Pena.
«Nos últimos tempos, além de restaurar, gosto de colorir as fotografias que valem essa atenção, mas nenhuma fotografia colorida pode substituir a imagem original a preto e branco. A cor oferece uma nova perspetiva de como pode ser apreciada, ajudando as pessoas de hoje a aproximarem-se da realidade do passado», disse-nos a propósito do seu trabalho.
A sua vida fica marcada por um acidente de mota que o deixou tetraplégico, mas nunca deixou de ter vida social e profissional pela sua condição de mobilidade reduzida. Iniciou, em 2002, o trabalho em edição de fotografia como empresário em nome individual, atividade que desenvolve «com muito gosto» procurando servir da melhor forma «a quem lhe confia as suas imagens para guardar com a qualidade que merecem ter».
Tem recuperado fotografias de diversos tipos, mormente da cidade e das suas gentes, a par de fotos de família e outras para revistas ou jornais. Do que mais gosta de fazer «são as fotografias da Guarda, recuperá-las e saber a sua história, pois cada fotografia regista um momento do passado e deixar perfeitas as imagens para serem vistas e apreciadas como merecem».
Na Guarda do passado, da fisionomia citadina, da peculiaridade da malha urbana, do reencontro com rostos, costumes ou de edifícios que já não existem, este é um trabalho de relevo para o conhecimento da nossa história e identidade; tal como outros trabalhos que devem ser devidamente equacionados e implementados, envolvendo gente que aqui reside e trabalha.
Gente que vive a cidade e a região, continua a ser resiliente, disponível para materializar o seu empenho e conhecimento.
O tempo atual, e o cenário que se adivinha de profundas mudanças, não é de hesitações nem desencontros, de alheamentos individuais ou coletivos, mas de esforços conjuntos que viabilizem uma nova normalidade e um novo futuro.