Contrariedades

“A solução (da estrada Manteigas-Piornos) devia passar pela construção de uma nova via, estreita, sem grande impacto ambiental, porventura do lado contrário do vale glaciar, com um sentido, que permitisse um movimento circular (descendente pela atual e ascendente por outra via, por exemplo)”

1. Alguns pais, alunos, ex-alunos, professores e funcionários da Escola C+S de S. Miguel, na Guarda, reuniram-se na noite de quinta-feira (semana passada) para uma vigília que assinalou «o último dia de vida da Escola». Terá sido o último momento de um estabelecimento de ensino que foi construído para resolver um problema na cidade, a falta de instalações para alunos entre o 5º e o 9º ano no final dos anos oitenta, na zona da Estação – foi criada por Portaria do governo em 31 de dezembro de 1986 e entraria em funcionamento no ano letivo de 1987/1988; com um projeto “standard” e construção “tipo pré-fabricada”; o seu enquadramento foi errado, e a segurança um problema grave: com vários acidentes viários no acesso, com atropelamentos, até que foi feita a correção com semáforos, barreiras e a construção de um viaduto sobre a VICEG (obra de “regime” que se impôs como um ex-libris da zona, mas de pouca utilidade, pois em vez de escadaria do lado este deveria ter um tabuleiro até à rotunda da Estação (onde ainda se espera pela locomotiva).
Na vigília, a Câmara da Guarda, e em especial o seu presidente, foram acusados por algumas das pessoas presentes pelo encerramento extemporâneo da escola – efetivamente em 2021 a Câmara chegou a aprovar um concurso para obras de requalificação e instalação de um centro escolar naquele local. Mas, recorde-se, a C+S de S. Miguel foi projetada como provisória e pensada para um período de 20 anos. Cumpriu a sua função e, entretanto, foi construída a Escola Carolina Beatriz Ângelo com melhores condições e localizada numa zona sossegada. Legitimamente, na comunidade escolar há pessoas que discordam e, bem, mostram a sua repulsa pela decisão, mas o vento não se pode parar com as mãos e aquela escola já não tinha condições para continuar a sua função com a qualidade que alunos, professores e funcionários merecem.
Uma escola é um local de vida, de conhecimento e aprendizagem e o seu encerramento é, por princípio, uma má decisão. Mas a verdade é que a C+S de Miguel nunca devia ter sido feita naquele local e há muito que deveria ter sido encerrada. Prevê-se que aquele local receba a futura instalação do Comando da Unidade de Emergência Proteção e Socorro da GNR.

2. A circulação na Estrada Nacional 338 entre Manteigas e Piornos, na Serra da Estrela, está encerrada há mais de nove meses – a sua reabertura esteve prevista para a passada segunda-feira, mas por causa do mau tempo continua encerrada.
A via, fechada desde dezembro de 2022, foi alvo de uma intervenção nas últimas semanas para a implementação de uma solução provisória que «permite a reabertura ao trânsito automóvel, ainda que de forma condicionada, mitigando os atuais constrangimentos para a mobilidade das populações», segundo a Infraestruturas de Portugal (IP). A empreitada consistiu na implementação de uma faixa de proteção junto da encosta nos troços identificados, nomeadamente com a colocação de um separador, para permitir a contenção das pedras de menor dimensão que possam deslizar sobre a via, complementado pela colocação de uma rede na parte superior do separador e de uma proteção adicional com sacos de areia de grandes dimensões. A IP sublinhou que está em preparação em estreita articulação com o LNEC e demais entidades responsáveis pela área envolvente uma solução de natureza definitiva. Ou seja, nove meses depois de encerrada a estrada de Manteigas aos Piornos era para reabrir como estava, com a proibição de autocarros, e uma suposta melhoria em alguns pontos com a colocação de uma rede para impedir as pedras na estrada. Nove meses fechada para nada. Uma vergonha. Reabriu hoje com os mesmos defeitos de segurança que tinha há nove meses… Manteigas foi altamente prejudicada e nove meses depois continua com uma ligação à Serra encerada e que, quando abrir, não terá condições de segurança. Manteigas precisa e merece uma melhor solução.
A solução devia passar pela construção de uma nova via, estreita, sem grande impacto ambiental, porventura do lado contrário do vale glaciar, com um sentido, que permitisse um movimento circular (descendente pela atual e ascendente por outra via, por exemplo) – o meio ambiente tem de ser preservado, mas garantindo segurança e mobilidade às pessoas e contribuindo para um equilíbrio entre o progresso, o desenvolvimento socioeconómico e a preservação do meio ambiente.

3. O jornalista e investigador José Domingos faleceu na passada quarta-feira, aos 66 anos, em Viseu onde estava internado.
José Domingos foi colaborador do Jornal O INTERIOR, da Rádio Altitude e foi jornalista da agência ANOP e depois da LUSA. Para além de jornalista de referência, foi um destacado divulgador da história e das tradições do distrito da Guarda, da cultura judaica, dos locais e terras do interior. A Guarda perdeu um notável embaixador. E eu perdi um amigo, colaborador e companheiro ao longo de mais de trinta anos.
Apresentamos sentidas condolências à família. E deixamos a sugestão para que o seu espólio, livros, artigos e objetos, seja classificado, conservado e público, na Guarda ou na Mêda, em Belmonte ou em Trancoso.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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