A competitividade entendida como a capacidade concorrencial das empresas é influenciada por fatores externos e internos. No plano dos fatores externos, a regulação da competição e inovação, as políticas públicas, os investimentos públicos e privados, e as crises importadas, assumem papéis de destaque. Relativamente aos fatores internos, deve destacar-se o capital intelectual, que é formado por uma tríade de capitais: humano; relacional; e organizacional.
A capacidade exportadora é mensurável por via do peso das exportações sobre o volume de negócios que se forma a partir do volume total de vendas, ao qual acresce a subcontratação por clientes nacionais e/ou internacionais.
A generalidade das empresas localizadas na Beira Interior (BI), fazendo uso dos recentes dados disponibilizados no Ranking das Empresas da BI 2019, denota uma capacidade exportadora limitada, que carece de um reforço por via da expansão dos mercados de destino.
Neste âmbito, merece uma especial menção o recente investimento na infraestrutura ferroviária da linha da Beira Baixa, que somado a outros investimentos de recuperação da rede ferroviária nacional, pode abrir uma via de exploração de “hubs” transfronteiriços de carga e transporte. Por conseguinte, a interconexão das infraestruturas portuárias de Leixões, Aveiro e Figueira da Foz, com os canais ferroviários rejuvenescidos que voltaram a religar o eixo Guarda-Covilhã-Fundão-Castelo Branco, constitui um fator externo que pode reforçar a capacidade concorrencial destes territórios de baixa densidade, por intermédio das suas empresas e dos seus empresários resilientes.
Uma análise macro da competitividade das principais empresas da BI, para além de evidenciar que estas representam apenas 7,7% do valor total de exportações da região NUT II – Centro, tendo como referência o ano de 2019, é acompanhada da constatação de uma fraca taxa de industrialização, secundada por uma limitada especialização das suas atividades produtivas. As exceções que cabe destacar a este nível são as concentrações industriais de manufatura e serviços nos concelhos de Pinhel, Fundão, Sertã e Vila Velha de Ródão.
Ao nível micro, a distribuição do tecido empresarial é dominada pelas micro, pequenas e médias empresas, que são muito importantes para a criação e manutenção de novos postos de trabalho. Estas unidades empresariais são, habitualmente, inovadoras e têm importância para a manutenção de uma orientação inovadora e exportadora, não obstante esta última representar apenas cerca de um terço do total do volume de negócios para o universo das 100 melhores empresas da BI, em 2019.
Recorrendo a um modelo de regressão que considera como variável de resposta, a evolução na posição do Ranking das 100 Principais Empresas da BI, entre 2018 e 2019, constata-se que o volume de negócios, o grau de integração vertical e a localização na capital de distrito, são fatores que influenciam positivamente a performance destas unidades empresariais. Por contraposição, o resultado líquido e a co-localização de uma Instituição de Ensino Superior influenciam negativamente a performance dessas mesmas unidades empresariais. Do exercício analítico aplicado ao Ranking agora tornado público, resultam as seguintes implicações: (1) a necessidade de reforçar a capacidade de produção industrial e o grau de integração vertical; (2) a erosão progressiva dos resultados operacionais; (3) a fraca ligação entre as Instituições de Ensino Superior e as unidades empresariais; e (4) a necessidade de expandir as exportações, entendidas como a fase zero de futuros processos de internacionalização das unidades empresariais localizadas em territórios de baixa densidade, que devem integrar cadeias globais de inovação, produção, distribuição e comercialização.
João Leitão
Professor de Economia na Universidade da Beira Interior