Comboios que se perdem demasiadas vezes II – Uma “gigafactory” para a Guarda

Escrito por Pedro Fonseca

“A captação de um investimento desta magnitude é sinónimo de desenvolvimento, de futuro, de sustentabilidade e de projeção internacional. “

No final do mês passado, a imprensa espanhola fez saber que a Tesla abandonou a sua intenção de implementar uma nova “gigafactory” em Valência. De acordo com os nossos vizinhos, Portugal surge agora como o destino favorito para a implantação da nova unidade produtiva da gigante tecnológica de Elon Musk.
Trata-se de um projeto de tecnologia de ponta, que produzirá baterias e outras componentes para veículos elétricos, envolvendo um investimento de 5.000 milhões de euros. No total, irá criar entre 12 mil a 15 mil postos de trabalho. Como termo de comparação, a Autoeuropa, o maior investimento estrangeiro em Portugal, emprega cerca de 5.000 pessoas.
A captação de um investimento desta magnitude é sinónimo de desenvolvimento, de futuro, de sustentabilidade e de projeção internacional. Trata-se de um projeto capaz de alavancar toda uma região para um novo patamar de desenvolvimento socioeconómico e de “puxar” pelos demais setores de atividade e pelas forças vivas da sociedade civil.
A notícia foi ecoada por alguns meios de comunicação social de abrangência nacional, mas, estranhamente, parece ter passado quase despercebida nas regiões do país que mais necessitam de investimento e de criação de emprego. Pelos vistos, nem anúncios com este calibre conseguem perturbar o normal funcionamento deste nosso “interior”.
Para se atrair investimento, não basta pedir aos anjos, aos santos e aos demais seres que povoam o reino celeste que intercedam por nós. É necessário fazer pela vida, ir “vender” a nossa localidade a potenciais investidores (cá dentro e lá fora) e reunir as condições necessárias para que esses investimentos se possam materializar.
No que respeita à “gigafactory”, a Guarda reúne alguns dos requisitos vitais para a instalação deste tipo de unidades industriais e está em vias de reunir outros. Temos um “cluster” automóvel em expansão e estamos nas imediações de outras unidades fabris do setor. Temos boas infraestruturas de comunicação rodoviária e ferroviária. Temos uma instituição de ensino superior e de investigação com créditos firmados nas áreas da logística, da automação e da mecânica. Aqui nascerá um porto seco e haverá um acesso facilitado ao metal utilizado no fabrico das baterias elétricas (o lítio).
Tendo em conta que as baterias são as componentes dos veículos elétricos mais dispendiosas de produzir e de transportar, o local onde a nova “gigafactory” ficar sediada passará a contar com um trunfo inestimável na atração de novas unidades industriais dedicadas ao fabrico de veículos elétricos.
Hoje, mais do que nunca, a Guarda necessita de ambição. Mas de uma ambição com rumo. Ter ambição sem rumo é o mesmo que querer caminhar sem saber para onde se quer ir. A responsabilidade recai sobre quem está mandatado para decidir esse rumo no melhor interesse de todos.
Neste caso em particular, se a decisão for a de aguardar que, uma vez mais, alguma cidade vizinha ou do litoral se antecipe, então estamos no caminho certo. Caso contrário, o melhor será meter mãos à obra e tentar não chegar atrasado à partida de mais um “comboio”.

pedrorgfonseca@gmail.com

* Historiador e ex-vereador da Câmara da Guarda

Sobre o autor

Pedro Fonseca

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