Clique de pânico

Escrito por Albino Bárbara

«Dia 24 de janeiro há eleições. Sete candidatos, todos eles socráticos menores, com um vencedor antecipado, no jogo de empurra: chega pra cá ou chega pra lá, unicamente para perceberem quem fica em segundo lugar, numa vulgaridade politiqueira, sem precedentes, numa visível falta de ideias, de princípios e valores onde a autenticidade e o sentido de Estado estão completamente ausentes. »

Amanhã é dia 1 de janeiro. Renovam-se os tradicionais votos para que 2021 seja bem melhor que este que hoje termina, pedindo unanimemente que o bicho desapareça.

Daqui a 25 dias vamos ter eleições. Eleições para a presidência nesta República que conta já com três Repúblicas, a 1ª República Velha, República Nova, Nova República Velha, Presidencialista, a 2ª: Estado Novo e esta 3ª, que atualmente vivemos, em 110 anos de um conceito extremamente ambíguo de revolução, liberalismo, ditadura e democracia.

A Respública que define o interesse público e defende o bem comum tem razões para estar zangada consigo própria.

Retirando daqui o poder dos sonhos (se é que alguma vez existiram) o símbolo da liberdade poderia muito bem ser a República das Rosas, nesta plutocracia centenária, em que o estatuto de todas as frutas foi largamente ultrapassado pelo das bananas, verificando-se o desnorte e a indiferença seletiva dos escândalos neoburgueses onde a razão, ou razões de queixa, são mais que muitas: saúde, ensino, salários, emprego, impostos, banca, ambiente, historietas (a maior parte delas mal amanhadas) contadas e alimentadas por eles, detentores do poder.

Neste diálogo republicano a primazia tem de ser dada ao conceito político, à evolução das ideias, à procura da justiça social, seguido de forma harmoniosa o desenvolvimento e a administração do território.

Dia 24 de janeiro há eleições. Sete candidatos, todos eles socráticos menores, com um vencedor antecipado, no jogo de empurra: chega pra cá ou chega pra lá, unicamente para perceberem quem fica em segundo lugar, numa vulgaridade politiqueira, sem precedentes, numa visível falta de ideias, de princípios e valores onde a autenticidade e o sentido de Estado estão completamente ausentes. 110 anos depois, a República não merecia isto. Merecia melhor. Muito melhor.

A Pátria Matria, Terra Patrum, esta que deu novos mundos ao mundo, com quase 900 anos de existência, os últimos 110 com suporte republicano, garantiu assim a consolidação, mesmo em momentos difíceis, de um país onde as tradições, os usos e costumes perduram, vê-se agora na encruzilhada da história limitada a um jogo de candidaturas, ao mais alto cargo da nação, onde está presente uma corja de politiqueiros, homens e mulheres que são do sistema ou se servem dele, agarrados unicamente aos seus objetivos e esquemas calculistas político-partidários. Fica o lamento: Pobre pátria mia.

Na esperança que a vacina resulte, oxalá 2021 nos traga a recuperação a todos os níveis, com muita paz, amor, alegria e sobretudo muita saúde. O resto, tudo o resto, conforme diz o povo, virá por acréscimo.

Sobre o autor

Albino Bárbara

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