Chicana política

Nota inicial, este artigo poderia ter um subtítulo: “Um PS no Governo, outro na oposição”.
Fui surpreendido por um comunicado do PS Guarda, enviado para os diversos órgãos de comunicação social locais, com o título “AD chumba proposta do PS com medidas para a valorização do interior” e cujo primeiro parágrafo reza o seguinte:
«O PSD, o CDS e o Chega votaram contra a proposta do Partido Socialista, durante a votação do OE na especialidade, que promove um conjunto de medidas de promoção e desenvolvimento do interior, nomeadamente melhorias nas acessibilidades, na mobilidade, no emprego e no reforço das escolas e instituições de ensino superior».
Lendo a proposta, até os mais incautos poderão facilmente perceber o motivo do “chumbo”. Naquilo que parece ser uma tentativa apressada de sinalização de virtude, o PS apresentou um conjunto de medidas, inseridas numa proposta de alteração ao Orçamento do Estado, que, pela sua vacuidade, dimensão, caráter plurianual e impacto orçamental, qualquer partido responsável e com sentido de Estado não poderia aceitar.
Nessa proposta, talvez numa admissão de incapacidade enquanto Governo, o PS tentou responsabilizar os restantes partidos pela consecução de um conjunto de iniciativas num ano (duração do Orçamento do Estado) no que, em oito anos e meio, não quis ou não conseguiu executar.
Por outro lado, propostas apresentadas pelo partido Chega referentes exclusivamente ao distrito da Guarda, ou a ele aplicáveis, e foram muitas, não mereceram o apoio do Partido Socialista. Medidas como a operacionalização do Porto Seco da Guarda, ou a reabertura do troço da linha ferroviária do Pocinho a Barca d’Alva, ou um programa de apoio à sustentabilidade dos meios de comunicação locais e regionais, ou a reflorestação do Parque Natural da Serra da Estrela, ou o programa de incentivo à fixação de jovens em territórios despovoados, ou, ou, ou…, não foram viabilizadas pelo Partido Socialista, motivados pela sua cegueira “anti-Chega”, ou por mera teimosia política, prejudicando a população que dizem querer servir.
A apresentação deste comunicado mais parece ser uma “fuga em frente” de um partido que, enquanto Governo, foi incapaz de reverter o despovoamento do interior. De um partido que, enquanto Governo, foi incapaz de cuidar, fixar e atrair população para o distrito. De um partido que, quando governa, nada faz e que, como oposição, quer que os outros façam. Esta forma de fazer política é baixa, cínica e hipócrita, numa tentativa de transferir as culpas próprias para costas alheias.
Talvez seja o tiro de partida para uma luta pelo poder local, a tentar marcar uma posição, mais a olhar para vitórias táticas em detrimento da estratégia e do futuro. Talvez seja um tiro que lhes saia pela culatra…
Seja na Assembleia da República, seja nos órgãos autárquicos onde temos, ou onde viermos a ter, representantes, o partido Chega continuará a lutar pelos interesses dos guardenses, sem chicana política, de uma forma transparente, sabendo que, ao fazê-lo, estamos a lutar por Portugal e pelos portugueses.

* Deputado do Chega na Assembleia da República eleito pelo círculo da Guarda

Sobre o autor

Nuno Simões de Melo

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