Cá se vai andando

Trump foi eleito há mais de uma semana, e o mundo mudou completamente para lado nenhum. A guerra na Ucrânia continua, a guerra de nervos entre o Hamas e Israel continua, e a mais sangrenta de todas as guerras, a guerra civil no Partido Socialista continua.

A administração de Trump ordenou que se deportassem imigrantes ilegais, tal e qual como fazia a administração de Biden ou de Obama. Sim, mas agora é pior, espuma o leitor a ler isto. É pior porque dá na televisão, porque as deportações, como as rusgas policiais, só são escândalo quando alguém as filma. É a técnica “Big Brother” aplicada a medidas securitárias. Encornanços, zaragatas e peixeiradas são habituais, mas ganham uma dimensão estratosférica quando são comentadas por Cláudio Ramos ou Ana Gomes.

E eu, que não gosto de rusgas nem aprecio zaragatas, entendo que, justificadamente, possa ser uma necessária medida de controlo de danos. O que espero sempre é que sejam discretas e não terminem em pancadaria – a não ser no final de um jogo de futebol ou dentro da “Casa dos Segredos”. Nestes casos, prefiro que a pancadaria seja já no fim do jogo para não perturbar o denominado desenrolar da partida, e até gosto mais de ver pugilato entre concorrentes de “reality shows” do que num ringue entre praticantes de boxe.

Por falar em violência e “reality shows”, o Partido Socialista mantém a bonita tradição de ser um partido norte-coreano quando está no poder e um partido sul-coreano quando está na oposição. (Não só não tenho espaço para explicar esta metáfora, como temo que tentar essa justificação mostraria que a metáfora não faz sentido nenhum, apesar de parecer bem gira, escrita só assim). Tal como os concorrentes do “Big Brother” vão enchendo as manhãs e tardes dos canais generalistas, os concorrentes de Pedro Nuno Santos enchem as noites dos canais de notícias. Uns e outros dão entrevistas a queixarem-se do comportamento dos companheiros de programa – de televisão ou eleitoral – e passam a vida a nomear-se para tentar expulsar um dos que não gostam.

Quem também se comporta como participante de “reality show” é André Ventura. Embora esteja sob atenção mediática «vinte e quatro sobre vinte e quatro», passa a vida a queixar-se que as televisões não passam as imagens que o favorecem, julga-se a vedeta mais importante e lamenta que, apesar de todas as suas virtudes, o povo português votou noutro concorrente porque não o entendeu bem.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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