Depois de viver meses de desespero por falta de chuva, o país ficou num estado caótico porque começou a chover. Faz todo o sentido, porque após tantos meses de secura, as pessoas desabituam-se. As autoridades e os serviços chegaram mesmo a acreditar que nunca mais choveria. Por isso, que razões haveria para cuidar dos escoamentos, se a pluviosidade era assunto do passado?
“Ó senhor presidente [seja do que for], olhe é capaz de chover em Dezembro. Se calhar íamos limpando as folhas das ruas”.
“Isso era o que todo queríamos, que isto a falta de água é uma desgraça. Isto agora com as alterações climáticas, agora temos Verão até ao Natal. Vão mas é montar a árvore de Natal de alumínio”.
As mesmas autoridades mundiais que querem evitar o aquecimento global andam preocupadas com a escassez de gás natural vindo da Rússia para ajudar a suportar o frio do Inverno. Esfalfam-se à procura de soluções, quando ela está mesmo à frente do nariz. Para não ser necessário depender de fontes de aquecimento artificial, é só deixar o planeta aquecer à vontade. Não só evitaríamos gastos desnecessários de gás, electricidade ou lenha, como passaríamos a ter o mar mais perto.
Ao ler, por acaso, uma reportagem sobre linguagem inclusiva, dou conta de mais um caso em que as propostas apresentadas destroem a sua própria intenção. Para evitar o machismo patriarcal nas organizações, os inclusivistas sugerem substantivar os órgãos de gestão. Em vez de se dizer “o director” ou “o presidente” ou “o reitor” deve dizer-se “a direcção” ou “a presidência” ou “a reitoria”. Obviamente, sempre que algum destes cargos seja ocupado por mulheres, a sua visibilidade em cargos de gestão fica completamente obliterada por esta solução. Normalmente é o que acontece quando a ideologia e o fanatismo ultrapassam o bom-senso.
O mundo não anda bom da cabeça.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia