As pancadas de Molière

Escrito por Francisco Dias

O Contrarregra, adiante designado por Presidente da Assembleia (P.A.), dá três pancadas secas no palco para abrir a sessão teatral.
1º Ato – As personagens, embora tardiamente, vão tomando os seus lugares como se de um dia de descanso se tratasse, apesar de remunerado.
Esgrimem-se argumentos fúteis, desenham-se antecipadamente estratégias de intervenção e adota-se a tática futebolística “cobertura homem a homem”.
Se fala o da esquerda, compete obrigatoriamente ao da direita rebater.
Se determinada personagem intervém, outra, não simpatizante pessoal, tenta destruir a ideia apresentada.
O Contrarregra (P.A.) gere os tempos. Contrariamente, a sessão de há um ano continuaria ainda neste preciso momento.
2º Ato – A personagem sentada no banco do réu, o Presidente da Câmara, vai-se defendendo, ora falando verdade, ora desvirtuando-a um ror de vezes, ora não respondendo na esmagadora maioria dos casos.
3º Ato – Neste palco discutem-se assuntos, ou melhor, os pilares determinantes da gestão autárquica na vida dos guardenses. Plano plurianual de investimentos, orçamento, relatório e contas, quadro de pessoal…
Por vezes, esbarra-se contra a inexistência de “quórum”, porque muitos dos presentes, e bem, não têm paciência e vão bebericar uns copos nas tascas circundantes…
Cenas repetidas até à exaustão! Palco tornado numa arena de desenfreados Gladiadores!
Epílogo – Dignifique-se este órgão deliberativo!
Aproveitem-se boas propostas, independentemente da sua origem partidária, porque o desenvolvimento da nossa terra urge. Criem-se equipas de trabalho politicamente diversificadas, dissequem-se assuntos melindrosos.
Revista-se a dialética da sua plenitude, advenham consensos decisivos e estruturantes e enlacem-se as aspirações dos guardenses.
Nesta corrida desesperada de protagonismo e de voto inútil, os eleitores que votam em branco deviam entrar no método de Hondt, pois determinaria o número de cadeiras que ficariam vazias.
O voto em branco tem um sentido, no âmbito de uma democracia cívica.
É neste órgão, não palco, que os cidadãos de bem, e não personagens teatrais, levam a nossa terra a bom porto, malgrado a distância do mar!
Esperança no futuro – Tenho a confiança e a certeza absoluta de que o órgão mais importante da estrutura da autarquia, a Assembleia Municipal, venha a ser o motor do desenvolvimento do nosso concelho em todas as vertentes.
Apesar de A Mais Alta ser conhecida pela sua qualidade do ar, aconselhada durante muito tempo para a cura de doenças pulmonares, eis que surge uma lufada de ar fresco de deputados jovens, devidamente qualificados e educados, que reivindicam um futuro promissor – querem, tão só, permanecer na terra que os viu nascer.
Louve-se a visão liberta de seguidismos deste grupo, independentemente das suas opções partidárias, e acabem-se os “yes man” que defendem as propostas, vislumbrando, única e simplesmente, o pagamento de favores a quem as lança.

Francisco Dias

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