Hoje vou dar a palavra às palavras. A todas elas mesmo aquelas que, se calhar, nunca te direi. Às palavras lindas de cristal e também aquelas que ferem como punhais. Às palavras de Eugénio, Sartre ou de Manuel António Pina. Às palavras sobre nós. Aquelas que desvendam quem somos, o que queremos, o que fazemos e, todas as outras que encobrem e descobrem princípios éticos e morais. Lá diz o povo “pobre de quem as ouve. Quem as diz fica aliviado”.
Será que neste jogo de palavras pode haver lata suficiente, bué desfaçatez, assobiar para o lado, tentando descalçar a bota, deixando antever processos pré-estudados, devidamente pensados e suficientemente calculados para que o chico-espertismo da irregularidade persista? Isto é sem dúvida um pequeno passo do dado adquirido, muito bem conjecturado, da corrupção e, que me desculpe o Jorge Palma do lado errado do dia e da noite.
Tema incontornável desta semana: A guerra. O descaramento mercantilista da China e ainda de mais uns quantos filhos de Putin. E lá surgem elas, as palavras, em jeito de pergunta:
E a habitação? E o mercado de arrendamento? E porque mais de metade do salário vai para a renda de casa ou para o empréstimo? E a saúde? E a educação? E as carreiras dos trabalhadores dos diversos sectores de actividade? E os salários? E as reformas? E os ricos e novos-ricos? E os pobres e os novos pobres? E a pedofilia? E o pedido de desculpas da Igreja católica? E os juros dos empréstimos? E o custo de vida? E os casos e os casinhos? E a luta político-partidária… até a local? E as sondagens? E o escarro que a democracia deixou parir a ter cada vez mais expressão? E a análise de tudo isto? E os casos e os casinhos? E as histórias e historietas mediáticas? E porque vivemos infelizes? E os migrantes, os tais que fazem parte integrante de qualquer país do planeta? E o egoísmo generalizado? E o cinismo encapotado? E a guerra dos mundos num inferno que pensamos estar lá abaixo e no céu lá de cima? Ainda será verdade?
É tempo de parar. Parar para reflectir. Tempo de idealizar, um mundo sem motivo para matar, com todas as pessoas a viverem em paz, partilhando o planeta como um só. Tal qual o imaginou Lennon. Sim é verdade. As palavras deixam antever um mundo mais livre, mais justo e bem mais fraterno, pondo de lado o operário em construção de Vinicius para jamais chegarmos ao poema de Alberto Pimenta.
É bem verdade que as palavras teimam sempre em ganhar forma. Quando a originalidade e beleza aparecem como símbolo de dimensão e virtude são, na maior parte das vezes, substituídas pela imperfeição e a ordinarice do jogo interesseiro, o tal que arredonda a pança a muita (boa) gente. E assim, a palavra difícil ganha o consequente significado de “remar contra a maré”. Tem algo resignado, nunca vencido, embora o poeta termine assim:
Cheguei a esboçar o gesto de uma mão… à espera de pão
Cheguei a esboçar um gesto de uma mão… à espera de amor
Cheguei a esboçar um gesto de uma mão… à espera de ti
E que consegui?
Apenas o esboçar do gesto.
As palavras
“É tempo de parar. Parar para reflectir. Tempo de idealizar, um mundo sem motivo para matar, com todas as pessoas a viverem em paz, partilhando o planeta como um só. “