Ano Novo, vida nova. Ano de viragem? Ou nem por isso…

Escrito por Efigénia Marques

E quase um quarto de século já la vai. A cidade maravilhosa cheia de encantos mil, onde o jardim florido que Deus cobriu de felicidade, de sonho e luz afinal existe na alma da gente e no poema de Caetano Veloso. Cidade maravilhosa que entretanto se modificou e, muito. Transformou-se num recanto onde a poesia e o pensamento livre quase desapareceram para dar lugar a uma mentalidade luciférica que, aos poucos, foi adotando caprichos colbertistas do aproveitamento do sistema, na interpretação da variabilidade da lei, no relaxamento do regime que de forma permissiva levou e leva, tantas vezes, à irregularidade, seguida muito de perto pela ilegalidade, vindo ao de cima o velhinho processo da corrupção que se alimenta da fragilidade consentida pelos governos e Estados.

O próximo dia 20 de janeiro é o ponto de viragem para todo o mundo. The show must go on with one show man. Na raspadinha política iremos perceber o que está por baixo da tinta. O pouco verniz que ainda ornamenta as unhas irá finalmente estalar e nós, o velho continente, sem líderes carismáticos, enredado que está numa quase dependência do Leste e dos impérios do sol nascente vai finalmente ser confrontado com as suas escolhas.

Trump vai tomar posse. Os Estados Unidos têm um défice comercial com a Europa. Europa esta que neste ano não vai dar mostras de crescimento. A China é o eterno arqui-inimigo. As tarifas comerciais irão disparar e outras passarão a existir. A guerra comercial está aí. O compromisso com a NATO vai ser revisto. Dos 32 países que a constituem, 29 estão no continente europeu, os States comparticipam com 16% do seu orçamento. Todos os países terão de apresentar compromissos para a redução de emissões de CO2, onde a COP 30 ganha toda a dimensão para o futuro do planeta. Que política energética será adoptada daqui para a frente no país do tio Sam? O que vai acontecer aos emigrantes? E a visão da guerra em África, nomeadamente no Sudão? O puzzle da guerra na Ucrânia (Trump não quer a Ucrânia como membro do Tratado do Atlântico Norte). A fraternal, mas sempre desconhecida relação com Putin, e o apoio incondicional do novo presidente americano a Israel (recorde-se a transferência, em 2017, da embaixada americana de Telavive para Jerusalém). O que vai acontecer na Síria, mesmo tendo em conta a queda do regime de Bashar Al-Assad e a incógnita do que se irá seguir com todos os países árabes? E o processo da Palestina? E as relações com os regimes de Maduro, Kim Jong e Ayatollahas?

Tudo isto baseado numa cultura sem princípios e raízes, onde se podem e devem somar algumas leituras bem conhecidas de todos nós, o que faz com que o populismo ganhe cada vez mais força em muitos países do velho continente, quiçá, com algum destaque neste cantinho à beira mar plantado.

Assim, o alerta está como nunca esteve, em cima da mesa. A revisão do itinerário torna-se imperiosa e urgente e os decisores políticos têm obrigatoriamente de saber responder com toda a perspicácia e rapidez à pergunta: Que é feito da cidade maravilhosa, cheia de encantos mil? Foi por isso que fomos expulsos do paraíso?

O ano de viragem é este. E neste reportório de possibilidade circunstancial temos de fazer mais esta pergunta: O que sabemos da circunstância?

Maquiavel, in “O Príncipe”, afirma textualmente que «os fins justificam os meios» e a falta de ética do chamado vale tudo vai, de certeza absoluta, prejudicar o mundo, o nosso mundo.

É que este “príncipe americano” mantém todo o seu poder de nos alarmar.

Sinceramente gostava de estar enganado…

Sobre o autor

Efigénia Marques

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