Amor maligno

Escrito por Diogo Cabrita

“Não construímos pessoas perfeitas pelo facto de que as não há. Muitos dos que me contradisseram misturavam falta de amor com amor acrítico, e são coisas muito diferentes. “

Resolvi lembrar no Dia da Mãe que há amor perverso e maligno. Fi-lo de modo cru e provocador usando a rede social onde se soltam os impropérios e as dores, onde se manifesta o incauto e o sabedor. Carreguei os argumentos, burilei a minha opinião, e aqui venho expor a mesma ideia, agora construída numa azáfama de leituras do vulcão onde deitei o fogo.
Há mães que amam, como todas as outras, mas nunca entenderam que a maternidade não consiste em louvar os filhos, em hiperbolizar os seus gestos, em transformar o garoto na sua continuação ou num acrescento de si. Há mães que amam, mas nunca identificam as linhas limite do viver coletivo. Não vivemos sós e por isso há frustrações, há fronteiras aos comportamentos dos educandos. Mãe não dá só amor, também educa, contraria, explica.
Tudo o que estou a dizer pode aplicar-se aos pais, mas eu sou dos que valoriza mais a maternidade, esse laço impossível para o homem, a gravidez, a relação do corpo dentro de outro corpo, do parto, essa porta que se abre à vida. Maternidade é animal e é placentar. Homem não tem! Por esta razão, nunca me pareceu correto as licenças de maternidade beneficiarem os homens. Continuo a defender uma redução de horário deles para ajudar as mães, mas homem não aleita, homem não tem dores de parto.
Não estou a falar sobre as mães raras que deram à luz e ponto. Não estou a falar das impedidas de amar por doença. Não estou a falar das que abandonaram os filhos. Aqui falo do erro do amor. Há amor que por ser acrítico, e sem desenho das linhas impossíveis, orienta o processo formativo para o caos. A deselegância, corrige-se. A falta de maneiras apruma-se. Os exemplos do estar em comunidade dão-se. Cada dia mais se vê a obesidade infantil que é uma consequência do amor acrítico. Cada vez mais se vê a desculpabilização sem quartel. A defesa insana dos filhos não é amor. Por vezes os nossos foram a má influência. Por vezes os nossos foram tontos.
Não construímos pessoas perfeitas pelo facto de que as não há. Muitos dos que me contradisseram misturavam falta de amor com amor acrítico, e são coisas muito diferentes. Falo sempre de mulheres que amam os seus filhos, mas depois cometem erros colossais. Usam-nos em divórcios. Usam os filhos na litigância com os outros. Ensinam ou induzem comportamentos para atacar o outro no divórcio.
Nunca se perguntam se o filho tinha razão. O nosso filho erra como os filhos dos outros. Usam-nos para fixar um casamento. Nunca lhes recusam nada. Promovem a ausência de frustração que é inadaptação à vida. Ausência de regras é caos emocional. As cedências devem ser adequadas e coerentes. Os erros ensinam muito e, portanto, os progenitores inteligentes ajudam a construir a aprendizagem, que vem de falhar, de não conseguir. O rapaz mais gordo do mundo não se movia da cama. A cuidadora, que o amava, levava-lhe a comida todos os dias, várias vezes por dia, até aos 570 quilos.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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