Resolvi lembrar no Dia da Mãe que há amor perverso e maligno. Fi-lo de modo cru e provocador usando a rede social onde se soltam os impropérios e as dores, onde se manifesta o incauto e o sabedor. Carreguei os argumentos, burilei a minha opinião, e aqui venho expor a mesma ideia, agora construída numa azáfama de leituras do vulcão onde deitei o fogo.
Há mães que amam, como todas as outras, mas nunca entenderam que a maternidade não consiste em louvar os filhos, em hiperbolizar os seus gestos, em transformar o garoto na sua continuação ou num acrescento de si. Há mães que amam, mas nunca identificam as linhas limite do viver coletivo. Não vivemos sós e por isso há frustrações, há fronteiras aos comportamentos dos educandos. Mãe não dá só amor, também educa, contraria, explica.
Tudo o que estou a dizer pode aplicar-se aos pais, mas eu sou dos que valoriza mais a maternidade, esse laço impossível para o homem, a gravidez, a relação do corpo dentro de outro corpo, do parto, essa porta que se abre à vida. Maternidade é animal e é placentar. Homem não tem! Por esta razão, nunca me pareceu correto as licenças de maternidade beneficiarem os homens. Continuo a defender uma redução de horário deles para ajudar as mães, mas homem não aleita, homem não tem dores de parto.
Não estou a falar sobre as mães raras que deram à luz e ponto. Não estou a falar das impedidas de amar por doença. Não estou a falar das que abandonaram os filhos. Aqui falo do erro do amor. Há amor que por ser acrítico, e sem desenho das linhas impossíveis, orienta o processo formativo para o caos. A deselegância, corrige-se. A falta de maneiras apruma-se. Os exemplos do estar em comunidade dão-se. Cada dia mais se vê a obesidade infantil que é uma consequência do amor acrítico. Cada vez mais se vê a desculpabilização sem quartel. A defesa insana dos filhos não é amor. Por vezes os nossos foram a má influência. Por vezes os nossos foram tontos.
Não construímos pessoas perfeitas pelo facto de que as não há. Muitos dos que me contradisseram misturavam falta de amor com amor acrítico, e são coisas muito diferentes. Falo sempre de mulheres que amam os seus filhos, mas depois cometem erros colossais. Usam-nos em divórcios. Usam os filhos na litigância com os outros. Ensinam ou induzem comportamentos para atacar o outro no divórcio.
Nunca se perguntam se o filho tinha razão. O nosso filho erra como os filhos dos outros. Usam-nos para fixar um casamento. Nunca lhes recusam nada. Promovem a ausência de frustração que é inadaptação à vida. Ausência de regras é caos emocional. As cedências devem ser adequadas e coerentes. Os erros ensinam muito e, portanto, os progenitores inteligentes ajudam a construir a aprendizagem, que vem de falhar, de não conseguir. O rapaz mais gordo do mundo não se movia da cama. A cuidadora, que o amava, levava-lhe a comida todos os dias, várias vezes por dia, até aos 570 quilos.
Amor maligno
“Não construímos pessoas perfeitas pelo facto de que as não há. Muitos dos que me contradisseram misturavam falta de amor com amor acrítico, e são coisas muito diferentes. “