As eleições presidenciais americanas do próximo mês de novembro são tão importantes que todos deveríamos poder votar nelas. Disse-se isto muitas vezes, mas nunca com tanta pertinência como agora. O mal que Donald Trump fez ao país dele e ao mundo pode tornar-se irremediável com a sua manutenção no cargo. Em quatro anos denunciou o Acordo de Paris sobre redução de gases com efeito de estufa, o acordo com o Irão sobre armamento nuclear, a troco de nada, aproximou-se da Rússia, em pagamento de favores, e da Coreia do Norte, a troco de vagas promessas. Afastou-se dos aliados europeus, destruiu a possibilidade de um acordo de paz para a Palestina, reagiu tarde à pandemia, saiu da Organização Mundial de Saúde no auge da mais grave crise sanitária de que há memória. No seu país tem tentado destruir a todo o custo o legado de Obama, sobretudo no que toca à assistência generalizada na doença e nos programas de apoio social aos mais pobres. Nestes quatro anos conseguiu ser o presidente mais corrupto, incompetente e impreparado da história dos Estados Unidos.
Poderia pensar-se que não tem qualquer hipótese de sucesso nas próximas eleições, mas isso não é verdade. É que a direita norteamericana é uma amálgama de muitas direitas e todas elas veem em Trump aquilo de que precisam. A direita evangélica vê nele uma proteção contra os males dos liberais e a possibilidade de reverter as leis do aborto, o que poderá ser possível com a maioria de direita no Supremo Tribunal, a direita libertária, favorável ao aborto e à liberalização dos costumes, gosta da desregulação e do aliviar do peso do Estado, a direita tradicional gosta da diminuição dos impostos e a direita iletrada aprecia Trump como todos aqueles que olham babados para os “socialites” da televisão. Mesmo assim não chega, claro, até porque quem se informa junto de fontes fiáveis sabe desmontar-lhe as mentiras, os erros de governação e as falhas éticas. Acontece que muita gente apenas se informa através da Fox News, um canal de informação sem grandes preconceitos éticos e claramente comprometido com a direita mais conservadora, ou então nas redes sociais, onde campeia a mesma contra-informação que levou Trump ao poder.
Parece que está tudo perdido, que vamos ter de enfrentar uma segunda vaga da pandemia ainda mais mortífera do que a primeira e que não poderemos contar com os Estados Unidos, ou que o aquecimento global, depois do breve alívio trazido pela quarentena, irá agravar-se a um ritmo cada vez maior até ser tarde demais.
Mas há esperança, e curiosamente vinda da direita. Há muitas organizações cristãs que acham que tudo tem limites e que não vão apoiar mais Trump, assim como muitos republicanos da velha escola, com sólidos princípios éticos, que acham que a democracia e a salvaguarda dos valores da decência e da honestidade valem mais do que uma eleição. Oxalá assim seja.