A história de tantas estórias começa assim: Era uma vez um país… onde (quase) todas elas terminam no “happy end” dos filmes americanos dos anos cinquenta e acabam com um beijo arrebatado e a frase “viveram felizes para sempre”.
Salman Rushdie ao criar Gibreel e Saladin mudou o rumo do final e, o papel atribuído apenas à Cinderela, foi distribuído por ambos os pratos da balança, invertendo-se assim o tal final feliz. Isto obriga-nos a perceber o anti conto de fadas onde o feitiço do tempo nos transporta para a realidade quotidiana, vislumbrando-se aí vários pontos estruturais, impossíveis de ignorar, daqueles que hão de ser abordados de forma permanente.
As organizações têm de saber usar uma outra mentalidade para gerenciar processos correndo os riscos necessários nas várias tomadas de decisão, sejam elas na governação, na liderança, concebendo um verdadeiro processo inovador, ao saber criar utopias. George Ward afirma «numa democracia os políticos não devem fazer julgamentos sobre o que é bom para as pessoas. Devem, isso sim, criar as condições necessárias para que as pessoas estejam satisfeitas com a sua vida».
É bem certo que a felicidade de cada um só é possível se for construída a par e passo com a felicidade do outro e eis aqui a essência básica do genuíno ato de governar.
Descendo ao nosso mundo, aquele que nos rodeia é sempre bom ter em conta coisas simples da vida, mas que são efetivamente importantes. Coisas que como diz o poeta: vemos, ouvimos e lemos… vivências, estados de alma ou coisas básicas como realidades estruturantes que podem ser maiores ou mais pequenas e, sinceramente, não me refiro ao palco papal mal engendrado, onde o Moedas, mais uma vez, mete os pés pelas mãos.
Por isso, tomemos por exemplo uma rotunda ou, se calhar, várias. Alindadas, ou mais ou menos floradas, sendo curioso perceber que há vilas e cidades conhecidas pelas suas rotundas, pelo seu número, pela sua beleza e há, inclusive, quem afirme que são fator de desenvolvimento e progresso. Autarcas há que comparam e competem com o vizinho para verem quem faz a melhor e a mais bonita rotunda.
Percebe-se assim que a moda pegou e foi, tanto por lá como por cá, seguindo o princípio “Deus quis que o homem sonhe, a obra nasça” e aí estão elas como sendo obra importante de todos eles e, já que estamos também por cá, convém relembrar a obra rotundonesca do anterior autarca guardense, democraticamente eleito: Embonecou a cidade e, na primeira oportunidade, deu de frosques para Bruxelas.
O que vem a seguir é deveras interessante e caricato. Sabe-se agora que ainda faltava um adorno para uma destas rotundas. Como não bastasse o mau gosto de (quase) todas elas (processo iniciado por Maria do Carmo no Torreão), eis chegada à cidade uma locomotiva, que, com um contrato esquisito, irá ser recuperada e posteriormente enfiada nos carris na rotunda da Estação, ficando à altura do pedestal de uma qualquer figura histórica. Para não me alongar muito apenas consigo citar António Gedeão quando este, na sua “Pedra Filosofal”, manda a locomotiva desembarcar em foguetão na superfície lunar.
Afinal as fadas já não são o que eram e, Rushdie, independentemente de condenado à morte pela boçalidade muçulmana, tem completa razão. O final feliz, por cá, foi trocado pela tragicomédia saída do conto de Antígona.
Noutra latitude e a mais baixa altitude, na vila mais central do distrito, decorreu na passada semana a já tradicional feira do queijo. A autarquia celoricense esmerou-se e, quando tudo é estudado, planeado, organizado, enfim, quando a coisa corre bem, deve endereçar-se os respetivos parabéns. Foi bonito de ver a passadeira vermelha e a passerelle das vaidades onde nada foi esquecido. Com o beneplácito régio do habitante do palácio pink, nem o fator político-partidário faltou e o festim/comício fez com que o líder social-democrata e respetiva entourage laranja fossem as verdadeiras, autênticas e magistrais figuras de proa.
Depois disto o melhor mesmo é que o genuíno queijo da serra passe a ser acompanhado por uma boa fatia de pão tradicional, um excelente tinto beirão/caseiro, finalizando com uma rodela da azeda laranja transmontana. É que seguindo a receita da autarquia celoricense é capaz de realçar o sabor.
Afinal as histórias de cá contadas por lá e por cá ainda começam assim: Era uma vez um país que tinha no interior uns indivíduos que politicamente… Quanto ao final, nem é preciso descortiná-lo. O leitor (infelizmente) já o conhece. Já sabe muito bem qual é.
A história diz-nos que…
“É bem certo que a felicidade de cada um só é possível se for construída a par e passo com a felicidade do outro e eis aqui a essência básica do genuíno ato de governar.”