A Guarda acolhe por estes dias as comemorações do Dia do Exército. Para além das diversas iniciativas que o Exército apresenta, e da demonstração de meios, este é um evento relevante e que contribui para a notoriedade e visibilidade da cidade.
O Dia do Exército Português é comemorado anualmente e tem como referência histórica a tomada de Lisboa, a 24 de outubro de 1147, pelas tropas de D. Afonso Henriques, patrono do Exército Português. É uma jornada de elevação nacional, mas também de sensibilização sobre a importância das forças militares num contexto de paz. E também da formação e divulgação do exército, do seu enquadramento social e profissional, e da atração de jovens para o serviço militar.
A “desmilitarização” do país, com um constante desinvestimento e com o fim do serviço militar obrigatório, levou à fragilização das Forças Armadas e da defesa nacional. Por isso, é preciso discutirmos qual o nosso papel no mundo e como queremos afirmar a nossa posição. O país tem de repensar a importância do investimento militar, na sua qualificação e nos meios necessários para dotar as Forças Armadas de capacidade para o exercício das funções, no Exército e nos outros ramos. Aliás, basta ver a importância do investimento na Força Aérea ou na Marinha na vigilância da Zona Económica Exclusiva (ZEE) de Portugal – a terceira maior da União Europeia, com 11% da ZEE da Europa comunitária, a 5ª maior da Europa e a 20ª maior do mundo – o mar tem de ser a grande aposta no futuro.
Assim, receber na Guarda as comemorações do Dia do Exército também é um momento de sentir, conhecer e reconhecer a importância das Forças Armadas no país, da sua atividade e desempenho.
Este é também um momento para relembrar que a cidade da Guarda foi, historicamente, um local de defesa, um baluarte da nacionalidade – o próprio nome da cidade remete para essa relevância fundacional, uma fortificação estratégica, promovida por Sancho I (1199) para proteger e guardar a região fronteiriça de ameaças de Leão e Castela. Talvez tenha sido Warda ou Lancia Oppidana e foi seguramente Guarda, durante séculos, em que a cidade esteve sempre vigilante, «forte, farta, fria, formosa e fiel».
Infelizmente, a cidade deixou de ter “tropa” ou sequer um quartel – o Regimento de Infantaria nº 12 (o RI 12) foi extinto em 1975 e depois o Batalhão de Infantaria da Guarda (o BIG) foi extinto em novembro de 1982 – e com isso perdeu muita da sua importância e vitalidade, porque um quartel também era vida social, económica e cultural.
A propósito do Dia do Exército, a Guarda deveria iniciar um processo de recuperação do espólio e musealização do RI 12 e demais unidades militares que estiveram sediadas na cidade, no antigo Convento de São Francisco ou noutro local emblemático – seria uma excelente forma de reconciliação com o passado militar da Guarda, completamente esquecido e ostracizado nos últimos 40 anos e fundamental na história da cidade. E poderia começar por recuperar o hino do “Doze”, um hino de exaltação que, como todo o hino, o dos “Doze” é um canto de honra e homenagem a um povo e a um herói, o Regimento de Infantaria nº 12: «O Doze é da Serra/Valente soldado…/Heroico na Guerra,/Fiel, arrojado./(…) O Doze é filho da Guarda/Onde a Hespanha se bateu!/Por honra da sua farda/O Doze nunca tremeu». Foi desta Guarda altaneira, mas caiu no esquecimento.
Muito para além do monumento aos militares no Jardim José de Lemos (muito aquém da importância e glória militar da Guarda na história de Portugal), os 50 anos de Abril poderiam ter sido um bom ano para começarmos a celebrar a história militar da Guarda.
A Guarda militar
“A Guarda deveria iniciar um processo de recuperação do espólio e musealização do RI 12 e demais unidades militares”