A força do PC

Um partido com 6,33% dos votos e 332 mil eleitores, mas que faz o que quer e ainda se vitimiza quando alguém discorda da benevolência com que as suas posições são assumidas pelas sociedade

Por Loures, o XXI Congresso do Partido Comunista Português reuniu mais de 600 pessoas, entre delegados, convidados e técnicos.

O país, meio confinado e com milhares de infetados com o novo coronavírus todos os dias, insurgiu-se contra tamanha falta de lucidez, preocupação sanitária e respeito pelas regras impostas à generalidade dos cidadãos. Os comunistas podem dizer que é a direita a atacá-los (também é), mas é essencialmente uma questão de bom-senso e respeito pelos demais portugueses. O PCP ao realizar o seu congresso nas atuais circunstâncias exibe a sua soberba e ignominia.

É verdade que num tempo em que um conjunto de direitos e liberdades foram suspensas pelo estado de calamidade, em que a liberdade individual deu lugar a restrições e impedimentos de movimentos, de proibição de reunião ou de limitação de atividades, ter a veleidade de fazer um congresso é também uma prova de vida e um grito pela democracia. Porém, a excecionalidade do momento devia ter levado à moderação dos comunistas. Não é apenas uma questão de gesta democrática ou direito de reunião político-partidária consagrada pela Constituição, é uma questão de solidariedade e respeito para com os demais portugueses. E o PCP deu mais uma prova de viver à margem dos deveres a que os demais portugueses estão obrigados. Um mau exemplo!

A força do PCP vê-se nesta provocação e no poderem fazer o que está vedado aos demais – como se viu na Festa do Avante ou em qualquer outra manifestação ou vontade. Um partido com 6,33% dos votos e 332 mil eleitores, mas que faz o que quer e ainda se vitimiza quando alguém discorda da benevolência com que as suas posições são assumidas pelas sociedade. 

E faz porque o governo e o PS estão dependentes do apoio dos comunistas. Na verdade, como bem se viu na aprovação do Orçamento de Estado, o governo está nas mãos do PC. Foram muitas as medidas incluídas no OE por vontade dos comunistas e acabaram por ser várias as opções dos comunistas contra o governo deixando o Primeiro-ministro de cabeça perdida e o país com um orçamento cheio de remendos costurados por medidas propostas pela oposição (PSD, Bloco e PCP) contra a vontade de quem governa, o PS.

Enganou-se António Costa quando pensou que podia falar grosso ao Bloco de Esquerda e que tinha o PCP controlado por permitir a Festa do Avante ou o XXI Congresso comunista. Mesmo com todas as concessões socialistas, os comunistas não vergam e fazem o que querem.

PS: Naturalmente que são cumpridas todas as regras sanitárias; naturalmente que ninguém vai cair para o lado durante o Congresso porque foi infetado pelo Covid-19; naturalmente que todos os cuidados foram tomados… as consequências poderão ser percebidas daqui a 10 ou 12 dias, como aconteceu após a Fórmula 1 em Portimão ou das idas ao surf na Nazaré, mas então ninguém irá associar o aumento de infetados a eventos ou encontros de dezenas ou centenas de pessoas, por isso, enquanto nos países onde este tipo de eventos está completamente proibido, e as medidas são muito claras, há redução de infetados e em Portugal continuam a aumentar – já estamos entre os dez países com mais casos e mais mortes por cem mil habitantes na Europa.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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