A Era das Transições – Artificial Mundo Novo

Escrito por Pedro Fonseca

“A história também nos ensina que todas as inovações tecnológicas inspiraram receios que, com o tempo, ou foram superados ou foram dominados. Todos menos um: a possibilidade de a tecnologia cair nas mãos erradas. Isso é o “pior” do nosso mundo.”

A chegada do ChatGPT permitiu ao cidadão comum contactar diretamente com as possibilidades quase miraculosas da Inteligência Artificial (IA). Em consequência, as expetativas e os receios em relação a esta nova tecnologia têm vindo a animar um debate alargado.
Se para os historiadores da ciência e da tecnologia a avaliação em retrospetiva do impacto das transformações tecnológicas nas sociedades humanas é uma tarefa árdua, prever os impactos futuros de tecnologias disruptivas afigura-se ainda mais desafiante.
Seja como for, é precisamente da história que podemos extrair lições importantes, começando pela noção de que os aspetos positivos das inovações tecnológicas tendem a superar os aspetos negativos e que, no que concerne especificamente ao mundo laboral, elas acabam por produzir sempre um saldo favorável em termos de número e de qualidade de postos de trabalho e de profissões.
A implementação transetorial da IA fará com que algumas profissões se tornem obsoletas e desapareçam. Mas, em simultâneo, será responsável pelo aumento exponencial da demanda por profissionais da área e pelo aparecimento de novas profissões especializadas. Além disso, será possível substituir o labor humano em diversas tarefas monótonas e perigosas, ao mesmo tempo que se ganha em assertividade e celeridade de processos.
Assim, a IA afigura-se, acima de tudo, como uma fonte de libertação laboral para os seres humanos. Libertação para exercer profissões mais criativas, que potencializam a resolução de problemas e que valorizam o pensamento crítico. Isso constitui o “melhor” deste admirável mundo novo.
A história também nos ensina que todas as inovações tecnológicas inspiraram receios que, com o tempo, ou foram superados ou foram dominados. Todos menos um: a possibilidade de a tecnologia cair nas mãos erradas. Isso é o “pior” do nosso mundo.
Num momento em que quase metade da população mundial vive sob regimes autocráticos e em que as organizações criminosas e terroristas globalizaram as suas ações, é legítimo recear usos abusivos de IA (como de qualquer outra tecnologia) que lesem os direitos humanos fundamentais e que possam até colocar em causa a segurança mundial.
Pelos vistos, temos ainda muito que caminhar até podermos usufruir do melhor destes dois mundos. Enquanto caminhamos, podemos beneficiar de uma feição também ela quase miraculosa da história se permitirmos que as luzes de vivências passadas iluminem os nossos passos em direção ao futuro. A história não se repete, mas rima, como bem notou Mark Twain.

pedrorgfonseca@gmail.com
* Historiador e ex-vereador da Câmarada Guarda

Sobre o autor

Pedro Fonseca

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