A ascensão e o ascensor

Escrito por Diogo Cabrita

“Nas igrejas, como estruturas organizativas de representação de Deus, já os homens se deliciam na conquista de poder, gestão de corredores, truques de secretaria, jogos de cintura, facadas nas costas, para uma Ascensão mundana sob o desígnio da outra que é divina.”

Ascender ao céu é a aposta de muitos na aproximação às igrejas. Buscam na sua ignorância o que a Igreja não promete: o paraíso após a vida.
As igrejas são um local de encontro coletivo com Deus ou deuses e procuram a força do grupo para garantir os preceitos e as crenças. Tenhamos presente que a fé é individual, única, invisível e intransmissível. Como qualquer necessidade, a fé não tem ajuda, nem pode ser levada por outro. Recordo as cruzes que transporta um bem-aventurado que realiza a promessa alheia. Os deuses nunca pediram promessas nem fizeram negócios. Os deuses nunca ofereceram mais que silêncio profundo. Nunca pediram oferendas. Quem faz dessas coisas são homens e mulheres que representam deuses na terra. De facto, desde Abraão que são pessoas que carregam profecias e mandamentos. Antes era o deslumbre da natureza que endeusava o Sol, ou a Lua, ou as tempestades, ou os fogos. Os seres humanos utilizavam as crenças em seu benefício e ofereciam sacrifícios para expiar os seus erros e pedir favores. Sempre a ideia de divindades ao balcão da loja.
Os profetas e os santos representam a humanização de Deus e normalmente as suas vidas são revoluções do indivíduo em prol dos outros. O eu projetado ao serviço da comunidade. A maior parte são obsessões ideológicas que se procuravam impor aos povos. A ideia de espalhar a fé a ferro e fogo, a ideia de catequizar pelo medo, só podia ser humana e nunca de um deus maior.
Não espanta, pois, que a ascensão sonhada se tenha convertido nas igrejas em elevador social. Um erro de interpretação que S. Francisco tentou expiar e explicar na simplicidade e humildade inerentes à dádiva e nunca à ascensão na vida terrena.
O problema de todas as igrejas está no fanatismo de quem interpreta a mensagem. A obsessão por espalhar a fé, fazer com que outros carreguem a cruz, cumpram os preceitos do profeta.
No caso do Corão há um rígido descritivo de comportamentos e uma tabela de impossibilidade que lembra as obrigações de Maomé para a grande caminhada. São lideranças humanas que se iluminam de um discurso messiânico.
Nas igrejas, como estruturas organizativas de representação de Deus, já os homens se deliciam na conquista de poder, gestão de corredores, truques de secretaria, jogos de cintura, facadas nas costas, para uma Ascensão mundana sob o desígnio da outra que é divina.
A subida aos céus não vai de Schindler nem de ThyssenKrup, é sem elevador, sem escadas. O centro da modalidade que parece existir na região frontal dos nossos cérebros, condiciona comportamentos educados, de aceitação do outro, de beneficência, de altruísmo que se esfumam quando um AVC ou um trauma comprometem este pedaço do cérebro. Deus materializado na ciência, definindo uma forma de perceber o conceito numa evidência anatómico/comportamental indiscutível.
O elevador das igrejas, das empresas, dos partidos, é frequentemente a confusão dos críticos. Há Ascensão de fé construída, e há ascensão e poder e ganhos secundários que são coisa de gente. Gente certamente!

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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