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«Um dia destes somos um centro de saúde e o hospital central é em Castelo Branco ou Viseu»

Escrito por Jornal O INTERIOR

Vigília pelo futuro da saúde na Guarda reuniu dezenas de pessoas preocupadas por haver «centros de saúde sem médicos de família» e um hospital «com serviços a funcionar de forma precária»

A falta de médicos na Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda e a preocupação com o futuro da saúde no distrito levaram dezenas de pessoas a participar numa vigília no sábado à noite, na Alameda de Santo André, na cidade mais alta.
A iniciativa do recém-criado movimento cívico “A Saúde não se aGuarda” decorreu à entrada do Parque da Saúde e mobilizou cidadãos anónimos, alguns profissionais da ULS e políticos. A vigília foi limitada pelas regras da DGS – que apenas autorizou a participação de 40 pessoas, afastadas por lugares marcados no chão. Condicionantes à parte, de branco e em silêncio, os participantes quiseram manifestar o seu inconformismo perante o estado atual dos cuidados de saúde e sobretudo o receio provocado pela recente atribuição por parte da tutela de apenas dez vagas para médicos especialistas à ULS das 45 solicitadas. Mais um problema para uma unidade hospitalar com vários serviços afetados pela carência de clínicos, caso de Ortopedia, Otorrino, Oftalmologia, Radiologia, Cardiologia ou Anestesiologia.
«Este movimento surge para dar apoio ao Conselho de Administração da ULS e dizer-lhes que estamos muito preocupados com o estado da saúde da Guarda», disse Sílvia Massano. A porta-voz do movimento alertou que é preciso estar «muito atento» ao assunto, pois «uma região que não tenha cuidados de saúde essenciais, básicos, muito dificilmente se desenvolve». «Não nos podemos conformar que existam centros de saúde sem médico de família e também não conseguimos conceber que as pessoas tenham que fazer longas distâncias, a expensas próprias, para terem acesso a cuidados básicos de saúde com qualidade», declarou a guardense, uma das dinamizadoras da vigília.
Sílvia Massano elogiou também os profissionais de saúde da Guarda: «Têm sido excecionais e estamos com eles porque os médicos e enfermeiros, eles sim, vestem a camisola e precisam de recursos. São poucos para fazer face a tanta necessidade no Hospital Sousa Martins», considerou, admitindo que a iniciativa poderá ter continuidade. «Esperemos que este movimento seja o início de algo bom para o Hospital da Guarda», concluiu. A organização deixou claro que não se tratou de uma vigília «contra a ULS da Guarda, mas sim uma luta em prol da saúde do nosso distrito». Carlos Chaves Monteiro, presidente do município e candidato do PSD à autarquia; Sérgio Costa, candidato independente à Câmara; Francisco Dias, candidato do CHEGA; Henrique Monteiro, líder concelhio do CDS-PP, e dirigentes do PCP foram alguns dos políticos que marcaram presença. Muito notada foi a ausência de Luís Couto, candidato do PS, e de dirigentes socialistas.

«A saúde já está a sofrer há muitos anos na Guarda»

A O INTERIOR alguns dos participantes não esconderam a sua preocupação com o que se está a passar. «A melhor forma de fechar um hospital é impedir a contratação de médicos e outros profissionais de saúde e isso tem acontecido não só agora, mas continuamente no Hospital da Guarda», afirmou Diana Sousa. Para a profissional de saúde na ULS, «é importante sair à rua e a tutela perceber que estamos indignados por haver centros de saúde sem médicos de família, o hospital com serviços a funcionar de forma precária e termos de usar hospitais vizinhos, o que era desnecessário se houvesse maior investimento na Guarda». Outra profissional da ULS, que pediu para não ser identificada, alertou para o «colapso total» da Oftalmologia e das «dificuldades» sentidas noutros serviços. «A saúde já está a sofrer há muitos anos na Guarda e vai sofrer ainda mais se os serviços começarem a ficar mais frágeis porque os médicos que estão vão acabar por sair e os novos não querem vir para serviços com materiais já antigos, sem equipamentos novos, sem investimento», disse
Outra guardense, professora do ensino secundário, disse recear que o número reduzido de vagas atribuído este ano à ULS vai «claramente contribuir para o encerramento de serviços, nomeadamente a Oftalmologia – que era um serviço estrela na Guarda pela experiência que tenho com familiares. Um dia destes somos um centro de saúde e o hospital central é em Castelo Branco ou Viseu», criticou. Opinião partilhada por outro participante na vigília, para quem «se continuarmos nesta trajetória não há como manter aquilo que têm sido os cuidados prestados à população». Na sua opinião, o Hospital da Guarda tem sido «descurado pela tutela e este último concurso de colocação de médicos é quase uma sentença para a nossa ULS, uma vez que não permite sequer compensar as saídas dos profissionais por reformas ou por outros motivos».

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