Economia

Preços indexados, riscos e desvantagens de uma tarifa de eletricidade instável

O Interior
Escrito por Jornal O INTERIOR

Nos últimos meses, muito se falou das vantagens de se contratar os preços indexados ou SPOT. Sobretudo nos setores de alto consumo, como os industriais, essa modalidade tem ganhado alguma popularidade. Afinal, o preço da eletricidade comercializada acaba por refletir as variações do mercado, tanto as subidas como as descidas. No entanto, os preços indexados ocultam certos riscos e desvantagens que devem ser levados em consideração antes de se decidir pela contratação de um ou de outro tipo de tarifa de energia elétrica.

Como funciona uma tarifa de eletricidade com preços indexados

As tarifas de luz com preços indexados ou SPOT têm o seu preço baseado nas variações de oferta e procura que o mercado experimenta diariamente. Além disso, outros fatores interferem nos valores, a exemplo dos preços globais das commodities, como o gás, o carbono, o petróleo, e dos direitos de emissão de CO2. Sem falar nas variações segundo a época e as tendências de consumo durante o ano. Por todos esses motivos, conclui-se que o cliente não desfruta de um preço fixo e estável.

Ao contratar uma tarifa indexada, não se pode saber qual será o seu custo final, já que a cada hora os preços podem variar, de acordo com as mudanças dinâmicas do mercado. Nesse sentido, é facto que o que foi rentável ontem pode não o ser hoje. Essas variações podem ser consultadas diariamente em https://www.omip.pt/pt

Ou seja, contar com uma tarifa de eletricidade com preços indexados é sinónimo de ter de pagar um preço diferente a cada hora em função dos mercados grossistas e da sua elevada volatilidade. Consequentemente, as famílias e os pequenos consumidores deparam-se com preços variáveis. Desse modo, é quase impossível estruturar e planear o uso da energia elétrica doméstica de forma a poupar ao fim do mês.

Com preços indexados, a fatura mensal dependerá sempre do preço de mercado. Por outro lado, as tarifas fixas praticamente eliminam esse risco de mudança e proporcionam estabilidade. Dado que atualmente os contratos não exigem fidelização, caso os mercados grossistas consolidem novos preços mais económicos, um cliente poderá mudar para uma tarifa indexada sempre que quiser. No entanto, é preciso ter em atenção as variações dos preços.

Em 2021, por exemplo, estamos a experimentar os preços indexados mais elevados dos últimos anos. Quem adota a tarifa fixa talvez não o tenha percebido, mas o mesmo não se aplica aos que adotaram as tarifas indexadas.

Além disso, deve-se ter em mente que, com os preços indexados, deverá estar informado a todo momento dos intervalos em que o preço da energia é mais barato. Por isso, deverá planear diariamente o horário para realizar a maior quantidade de atividades domésticas que precisam de eletricidade para funcionar.

E não terá de levar em consideração apenas a hora do dia, mas o mês do ano. Afinal, em algumas estações ou meses do ano, o preço da eletricidade dispara devido à dinâmica do mercado.

Prova disso são os altos preços da eletricidade a partir de abril de 2021 em Portugal. Isso ocorre devido aos elevados preços do gás e dos direitos de emissão de CO2, além de uma baixa produção eólica na Península Ibérica, o que favorece os aumentos dos preços.

Riscos dos preços indexados nas tarifas de eletricidade

A modalidade indexada nas tarifas de energia elétrica pode apresentar inicialmente grandes vantagens. Porém, com o passar do tempo, poderá verificar que o seu modelo acaba por não ser o mais estável ou o mais barato.

A seguir, informamos quais elementos deverá ter em consideração antes de contratar essa modalidade:

  • Preços variáveis: esta é provavelmente a maior desvantagem dos preços indexados ou SPOT. Ao passo que uma tarifa fixa de energia elétrica é garantia de estabilidade ao longo de todo o ano, uma tarifa indexada é sinónimo de instabilidade e variações em função da oferta e da procura do mercado.
    Nas épocas do ano em que as condições meteorológicas são piores para a produção de energia renovável, os preços sofrerão grandes aumentos, sendo muito mais elevados do que o que o consumidor teria obtido com uma tarifa fixa. Essa incerteza e a variação levam o consumidor a nunca saber o preço médio que paga na fatura de luz. A tarifa de eletricidade indexada é imprevisível e muitas vezes dificulta a economia familiar.
  • Custo excessivo das faturas: nos meses em que o consumo nacional aumenta, os preços da eletricidade também podem subir. Nas alturas mais frias do ano, como foi o último mês de janeiro, os clientes consumiram mais energia do que nunca, sem falar dos preços dos mercados grossistas, que bateram os recordes.
  • Complexidade: por se tratar de uma modalidade de contrato complexa, os possíveis erros por excesso de custo na faturação podem não ser detetados a tempo e, portanto, acarretarem um custo de erros maior do que o obtido com um contrato de tarifa fixa.
  • Desinformação na contratação: no ato da contratação de uma tarifa indexada, o ideal é que o consumidor tenha um medidor inteligente que permita obter uma curva horária real para saber quais são os melhores horários para fazer uso da energia. Por não possuírem uma curva real, as empresas tendem a cobrar com base numa curva padrão para cada tarifa. Dessa forma, o consumidor (que está a ajustar os seus hábitos de consumo para poupar) é cobrado de acordo com um padrão de consumo generalizado e não de acordo com o seu próprio consumo.

Em suma, os preços indexados nas tarifas de eletricidade possuem vantagens, sobretudo se essas adequam-se aos hábitos de consumo do cliente. Porém, deverá informar-se antes de optar por uma ou por outra tarifa, pois os preços indexados apresentam grandes desvantagens que devem ser consideradas para não pagar além do devido.

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