P – Foi escolhido para fazer um semestre na Academia Militar americana West Point, uma das melhores do mundo. Era algo que ambicionava?
R – Claro! A Academia Militar sempre se preocupou com a internacionalização dos seus projetos e a criação de relações entre os nossos militares, docentes e alunos com os seus pares entrangeiros. No entanto, o ano passado foi a primeira vez que houve a possibilidade de fazer um semestre inteiro, oportunidade abraçada com mérito pelo cadete Pedro Gomes. Desde esse momento, e tambem devido às histórias e experiências que ele partilhou, a vontade de ir cresceu dentro mim. Quando o meu segundo ano se aproximava do fim, e descobri que vinha acompanhado de um grande camarada da minha turma, o cadete Eduardo Serra, fiquei extremamente feliz e até agora não me arrependo de ter aceite ir para West Point.
P – Quais as expetativas que possui relativamente à estadia nos Estados Unidos? O que espera alcançar?
R – Neste momento estão cá cadetes de múltiplas nações com quotidianos, tradições e costumes muito diferentes, o que leva a um grande choque cultural enquanto nos conhecemos. Este facto resulta num grande processo de aprendizagem para todos, do qual eu tenho a expetativa de finalizar com novas formas de pensar, resolver problemas e tomar decisões com uma mentalidade aberta, metódica e objetiva, algo que é de grande importancia para um oficial. Quero também fazer o papel de turista, viajar um pouco pelo país, e experimentar o que os EUA têm para oferecer. Em último lugar, espero, obviamente, completar com sucesso todas as unidades curriculares que vou frequentar.
P – Estando a frequentar o curso exército-armas, quais as competências que poderá adquirir nos EUA que serão vantajosas para a sua área de estudos?
R – O meu curso é muito geral e ganha maior significado na parte da especialização em mestrado. Seremos nós quem vai ter maior contacto com os homens, quer seja em Portugal ou num teatro de operações estrangeiro. O que acontece em West Point – que é diferente – é que praticamente todos os cadetes têm funções de comando sobre outros cadetes mais modernos, estando os anos misturados nas diferentes companhias. Além disso, fazer parte das sessões de treino militar que eles possuem, e poder praticar técnicas, táticas e procedimentos diferentes, com equipamento distinto do nosso, é bastante vantajoso para a minha área.
P – Quais são as suas perspetivas e ambições de futuro?
R – A minha ambição é escolher a arma de infantaria na especialidade de mestrado. Se tudo correr bem, quando acabar a Academia (e se estiver em condições para tal) gostava de tentar realizar um curso de tropas especiais. Se não for possível espero, pelo menos, conseguir fazer uma missão no estrangeiro. Isso iria fazer-me sentir bastante completo. Em termos de um futuro mais longínquo, não penso sair do Exército. Se conseguisse chegar a um posto mais elevado e ter um cargo mais complexo para mim seria o ideal.
P – Consideraria um dia regressar à região onde nasceu, se houvesse essa possibilidade?
R – Eu gostava imenso de voltar e poder fazer carreira perto de casa, no entanto não existe nada referente ao Exército na região e creio que assim vá continuar. Apesar disso já estou mentalizado e não me incomoda o facto de ser obrigado a construir uma vida longe do local da minha infância. No máximo podia voltar na idade da reforma – algo que acho difícil depois de já ter o meu mundo organizado noutro local –, mas nunca se sabe o futuro e ainda faltam muitos anos até lá.
P – Quais as maiores diferenças entre a formação militar portuguesa e estrangeira? Quais os pontos fortes e fracos?
R – Nesse aspeto posso apenas falar das diferenças entre as academias que frequentei, porque fora disso não tenho experiência. Em equipamento e capacidade logística não há dúvida que a americana bate qualquer outra, algo que seria de esperar dado o orçamento que tem. No entanto, no aspeto humano, os portugueses são muito mais resilientes, talvez devido à nossa instrução e enquadramento na vida militar que possui muito mais dureza. No que toca à disciplina, aos portugueses ela é imposta com mais vigor no dia-a-dia do que aqui nos EUA, algo que eu noto bastante pela grande descontração que se sente diariamente. Apesar disso prefiro a forma portuguesa porque, no final de contas, a disciplina faz parte do significado de ser miltar, e isso aqui acaba por perder-se um pouco. Outra grande diferença está nos cursos. Na América são completadas formações civis e só depois se segue para especialidade do Exército. Devido a este facto grande parte dos alunos sai após os cinco anos de formação, sendo mais fácil conseguir emprego no mundo civil. Existem muitas outras diferenças, mas, a meu ver, o cenário ideal seria manter o que temos em Portugal, mas com o equipamento e capacidades que West Point possui.
Perfil de Luís Filipe Tavares Justino:
Naturalidade: Fundão
Idade: 22 anos
Profissão: Estudante/ militar
Currículo: Estudou Engenharia Informática na UBI. Frequenta o terceiro ano do mestrado integrado em Ciências Militares da Academia Militar
Filme preferido: “Saving Private Ryan”, de Steven Spielberg
Livro preferido: Não tenho
Hobbies: Desporto/ fitness, videojogos, sair com amigos