Cara a Cara

«Foi a vitória de um projeto desportivo que investe e valoriza os seus»

Cara
Escrito por Jornal O INTERIOR

Entrevista a José António Soares Carvalho

P – Como vê a sua continuidade no Grupo Desportivo de Trancoso, campeão distrital em título da AF Guarda?

R – A minha continuidade como treinador aguarda uma proposta dos futuros órgãos sociais e a definição do projeto desportivo. O Trancoso disponibiliza atualmente excelentes condições de trabalho que permitem potenciar os valores do clube e consolidar o trabalho desenvolvido nos últimos quatro anos. Considero-me um treinador ambicioso e que gosta de desafios. A participação nas provas nacionais representa o palco perfeito, alcançado por direito próprio, e corresponde à minha expetativa. Se o clube não participar no Campeonato de Portugal aguardarei para saber quais os objetivos desportivos do clube. Tenho com toda a estrutura, atletas, dirigentes e sócios uma ligação afetiva e emocional muito grande. Como repetidamente o afirmámos, juntos formamos uma família. O GD Trancoso proporcionou-me todas as condições para alcançar o sucesso no Distrital da Guarda e estou grato a todos(as) o(a)s que contribuíram para esta importante vitória e que lhe fugia há 45 anos.

P – Qual foi o segredo para a vitória no campeonato?

R – Não houve segredos! Houve trabalho, empenho, compromisso, dedicação e ambição. A vitória foi alcançada com base no valor dos jogadores, no trabalho consolidado dos últimos quatro anos e na união do grupo, maioritariamente constituído por jogadores naturais do concelho e com percurso desportivo de formação no clube. O GD Trancoso tem apostado na formação nos últimos anos e mantido em atividade todos os escalões jovens. A maioria dos atletas seniores têm entre oito (os mais jovens) e 13 anos de formação no clube. Um deles, com 40 anos de idade, representa o Trancoso há 20 anos. Com esta base gera-se um sentido de pertença e identidade muito grande com o clube. A qualidade existente foi potenciada pelo trabalho desenvolvido, pois a equipa sabia, em cada momento, como se comportar. É muito gratificante para um treinador quando a equipa alcança este patamar de competência. Este sucesso é igualmente o resultado do apoio e das condições criadas pela direção e órgãos sociais do clube, pelo município de Trancoso, sócios, adeptos, simpatizante e patrocinadores.

P – Qual é, para si, o melhor momento desta temporada?

R – Destaco dois momentos de grande felicidade: a retoma das competições e a vitória na final da Liga de Ouro sobre o CD de Gouveia. A interrupção do campeonato devido ao estado de emergência gerou sentimentos de incerteza sobre a sua conclusão. Felizmente, foi possível reunir as condições de segurança e saúde pública que permitiram a retoma da prova – e a coragem das equipas que a disputaram foi fundamental. O segundo momento foi, naturalmente, a conquista do título frente ao Gouveia, adversário com um projeto desportivo e capacidade distintas das nossas. Tivemos a capacidade de dividir o jogo, equilibrámos enquanto conseguimos e sofremos quando foi necessário. Foi a vitória de um projeto desportivo que investe e valoriza os seus, o que é seu e honra todos os clubes do distrito que fomentam o desporto local e valorizam as suas raízes.

P – E qual foi o pior?

R – Foi sem dúvida a interrupção do campeonato. Estávamos num excelente momento de forma e a paragem conduziu à perda de forma da equipa, à incerteza e receio sobre o futuro. Do ponto de vista do atleta, a alternância de períodos competitivos representa um risco acrescido de lesão, pelo que solicitámos aos jogadores que, cumprindo as medidas da DGS, se mantivessem ativos.

P – A que se deve a falta de manutenção das equipas da região da Guarda nos Nacionais?

R – Eu diria que se deve a uma responsabilidade repartida entre o contexto em que se realizam as provas distritais e as nacionais. Por um lado, a Federação eliminou a extinta IIIª Divisão para reforçar e aumentar o nível competitivo das Associações Distritais e manter apenas uma prova amadora sob a sua tutela. O tempo veio demonstrar que algumas associações terão efetivamente reforçado o plano competitivo das suas provas, mas, para o interior, esta medida dificultou de forma decisiva a manutenção das nossas equipas nos Nacionais. Importa recordar que o atual Campeonato de Portugal corresponde à extinta IIª Divisão e não era habitual o distrito da Guarda ter representantes neste patamar – a Desportiva da Guarda foi o clube com mais presenças. A extinção da IIIª Divisão força os nossos clubes a um salto qualitativo muito grande sem tempo de adaptação e de crescimento. O atual Campeonato de Portugal é uma competição essencialmente profissional e as dificuldades dos nossos clubes começam aqui porque aqueles que têm participado não reúnem condições para ser profissionais. Este fator converte-se num embate desigual. Na minha opinião, a Federação tem a obrigação de contribuir para a premissa inscrita no nº1 do art. 4º – Princípios da coesão e da continuidade territorial – da Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto: «O desenvolvimento da atividade física e do desporto é realizado de forma harmoniosa e integrada, com vista a combater as assimetrias regionais e a contribuir para a inserção social e a coesão nacional», através do modelo de competição nacional sobre a sua tutela. A restante responsabilidade pela falta de manutenção das nossas equipas nos Nacionais deve-se a um “abrandamento” no volume e intensidade de treino e jogo que se reflete de forma decisiva quando a mudança de competição acontece.

P – Quais são os objetivos do GD Trancoso para a próxima temporada?

R – Dependem da prova em que vai competir. A participação no Campeonato de Portugal requer uma representação digna do distrito com o objetivo mínimo da manutenção. Mas é necessário criar condições para aumentar o volume de treino e aproximar o trabalho realizado de um nível profissional. Penso que os clubes com intenção de participar nas competições nacionais têm de se reestruturar para uma dimensão semiprofissional.


José António Soares Carvalho

Idade: 43 anos

Naturalidade: S. João da Madeira

Profissão: Professor de Educação Física no Agrupamento de Escolas Afonso de Albuquerque (Guarda)

Currículo (resumido): Treinador de Futebol desde 2001 com passagens pela AD Sanjoanense, NDS Guarda, Sp. Sabugal, AD Manteigas, Mileu Guarda SC, Guarda Unida e GD Trancoso; Campeão distrital de juvenis e juniores da AF Guarda pelo NDS; Campeão distrital de seniores da IIª Divisão a AF Guarda pelo Mileu Guarda; Campeão distrital de seniores da Iª Divisão da AF Guarda pelo GD Trancoso e treinador no Nacional de Seniores pela AD Manteigas; Campeão do Mundo da FISEC (Fédération Internationale Sportive de l’Enseignement Catholique), em 2013, na modalidade de futsal, pelo Agrupamento de Escolas da Sé.

Filme preferido: “Remember the Titans”, “O Sexto Sentido” e “As Palavras que Nunca te Direi”

Livro Preferido: Vários livros técnicos sobre futebol

Hobbies: Família, amigos, desporto, informática e multimédia

Sobre o autor

Jornal O INTERIOR

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