P – O que significa este Prémio Gazeta de Imprensa Regional para o “Notícias de Gouveia”?
R – Os Prémios Gazeta são reconhecidos entre os pares como os mais importantes prémios do jornalismo português. Termos recebido esta distinção deixa-nos com o sentimento de missão cumprida e bem cumprida. É uma fase feliz para o jornal, que só nos motiva a fazer ainda melhor, e um privilégio, queria sublinhar, sermos entrevistados por O INTERIOR, também vencedor no passado do Prémio Gazeta Imprensa Regional.
P – O que acha que contribuiu para o jornal ser distinguido pelo Clube de Jornalistas?
R – Temos percebido nos encontros promovidos pela Associação Portuguesa de Imprensa que o grafismo do nosso jornal é amplamente elogiado. Mas não é só o grafismo, o conteúdo do jornal fala por si. As capas revelam que em todas as edições há uma entrevista ou reportagem de fundo que foge à agenda. Esse foi o meu principal objetivo quando, há quase quatro anos, assumi a direção do jornal. É preciso fugir ao vício da agenda, que é importante e tem o seu lugar, mas, se queremos marcar a diferença, temos que ser diferentes e o NG marca pela diferença. Sem dúvida alguma que a qualidade do grafismo e do conteúdo do jornal só é possível graças ao nível de excelência dos seus trabalhadores e aqui elogio a dedicação de corpo e alma do jornalista e chefe de redação Paulo Prata e do gráfico, paginador e administrativo, Paulo Saul.
P – Numa altura em que a sobrevivência é o denominador comum a grande parte da imprensa regional, quais são as principais dificuldades/ carências de um jornal com 105 anos?
R – São tantas que é difícil enumerar todas. Mas há uma carência de recursos humanos, de uma forma geral. Não creio que, no nosso caso, nos possamos queixar das condições técnicas, de material, mas por exemplo, uma edição digital mais elaborada exige uma redação própria e jornalistas dedicados a essa área. Penso que o digital só faz sentido se for bem feito. De outra forma, e dado ao reduzido número de jornalistas no NG, é preferível ter um site simples, onde seja possível descarregar o PDF da edição que vai para as bancas. Não poderia deixar de sublinhar a crescente quebra de receitas de publicidade e a diminuição do número de assinantes, que é uma evidência, mas creio, e sendo otimista, que um bom jornal terá sempre leitores. É um esforço que pode demorar a ter resultados. Por último, e de uma forma geral, sabemos que o jornalismo anda de mãos dadas com a precariedade. Trabalha-se muito e os salários são muito baixos. No entanto, não há muitos jornais que se possam orgulhar de estar há mais de 100 anos no mercado e aqui o papel da ABPG – Associação de Beneficência Popular de Gouveia tem sido fulcral na defesa do jornal da sua terra e região e acima de tudo dos seus trabalhadores.
P – Atualmente, o “NG” é trimensário. É possível voltar à ser semanário ou já não faz sentido?
R – Creio que essa questão já não se coloca. Essa foi uma decisão tomada muito antes de chegar a este jornal e é com esta periodicidade que tenho trabalhado. Contudo, há aqui um problema sério e o nosso maior constrangimento, que gostaria de destacar. A partir do momento em que o NG alterou a sua periodicidade, o prazo para entrega do jornal pelos CTT aos assinantes passou de um dia útil para três. Quando o jornal sai a uma sexta-feira, há leitores que só o recebem quase uma semana depois e estou a falar em território nacional. É um aspeto que nos está a prejudicar muito, com os assinantes a deixarem o jornal devido aos sucessivos atrasos na entrega e neste caso sinto-me de mãos atadas. Já reclamei e não há forma de contornar este problema.
P – Qual é o futuro da imprensa regional num mundo de novos paradigmas comunicacionais?
R – Digo sem reservas que a imprensa regional é e tem de ser o futuro. Sabemos cada vez mais do mundo dos outros e menos do nosso e vai chegar o momento em que daremos conta da importância da imprensa regional quando um presidente da junta não tiver um único microfone à frente numa conferência que convoca. Se fizermos a experiência de pesquisar no Google notícias sobre uma freguesia à escolha do distrito da Guarda, se calhar, há casos em que vamos ter dificuldades em encontrar uma única que seja. Há freguesias que nunca foram alvo de reportagem, gente a quem nunca foi dada voz. Os meios nacionais apostam cada vez menos em correspondentes e o que se vê é uma informação cada vez mais politizada, política e Lisboa. Vejamos o que aconteceu em Pedrógão ou até mesmo na nossa região. Os incêndios despertaram para uma realidade que é, para muitos, desconhecida. É aqui que a imprensa regional desempenha e desempenhará sempre um papel fundamental. Dar voz a quem não tem voz.
P – Também defende o regresso dos apoios do Estado aos media regionais?
R – No caso da imprensa escrita diria que os apoios do Estado, à semelhança do que foi um dia o Porte Pago, seriam uma boa iniciativa que não colocava em causa a independência e liberdade dos jornais. No entanto, o jornalismo sofre de um mal, talvez por sermos os próprios protagonistas da ação, os nossos problemas raramente são divulgados ou capa de jornal e deviam ser. O jornalismo regional, de uma forma geral, precisava de uma boa ação de marketing.
Perfil de Liliana Carona:
Jornalista e diretora do “Notícias de Gouveia”
Idade: 35
Naturalidade: Gouveia
Currículo: Licenciada em Jornalismo, mestre em Comunicação e Jornalismo, pós-Graduada em Imprensa Regional e doutoranda em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Livro preferido: “Caderno de Significados”, de Agustina Bessa-Luís
Filme preferido: “As pontes de Madison County”, de Clint Eastwood
Hobbies: Ouvir a Rádio Renascença, ler e passear na minha Serra da Estrela