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Mitocôndrias e Quasares

Para a maioria das ciências descrever um fenómeno significa habitualmente observá-lo, medi-lo, quantificá-lo e, se for possível, dissecá-lo. No campo da física, embora se pretenda seguir este método de investigação, chega-se a um ponto em que as certezas se desvanecem e se torna necessário usar a imaginação. O terreno em que os físicos trabalham é desconhecido, ou quase, e os vazios completam-se com suposições ou, para sermos mais exatos, com previsões. Isto implica que, no âmbito da física, quando se observa um evento, primeiro supõe-se a existência do fenómeno que o provoca e depois tenta-se observá-lo.

Quando começamos a separar as camadas que formam a matéria damos conta da existência de muitas partículas, não porque tenhamos podido vê-las, mas porque foi possível detetar aos seus efeitos. Chegando ao centro da matéria descobrimos que, por um lado, estão os quarks e os leptões (o eletrão é um leptão a que chamamos fermiões e que se caracterizam por um número quântico que se denomina spin e que se apresenta na forma fracionada). Por outro lado, há os bosões, que, ao contrário dos fermiões, não são matéria, mas são os encarregados das forças que unem a matéria e se diferencia pelo spin, que, neste caso, é inteiro.

Ou seja, a matéria que compõe um átomo (os fermiões) está unida por uma constante troca de bosões, dos quais o mais conhecido é o fotão. As forças que mantêm o núcleo unido chamam-se gluões. As partículas nunca trocam as suas funções, cada uma cumpre estritamente o papel que lhe foi atribuído. Se, pelo contrário, estas partículas pudessem fazer intercâmbio, eliminando a diferença entre elas, falar-se-ia de supersimetria.

Estas teorias afirmam, aliás, que antes da separação das quatro forças, isto é, no preciso instante do “Big Bang”, todas as partículas tinham a sua companheira. Assim, o fotão (recordemos que é um bosão) tem como companheiro um fermião que se chama fotino. O mesmo acontece para o resto, embora na denominação a única coisa que muda é o acréscimo de um “s” antes da palavra. Por exemplo, o companheiro do neutrão é o sneutrão e do quark o squark. Dado que estas hipotéticas partículas seriam mais maciças que as suas companheiras são candidatas a integrar a matéria escura.

Nesta linha de investigação de novas partículas, o CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear) comunicou a descoberta de uma nova partícula, batizada Xi-cc, que apareceu durante uma fração de segundo no acelerador conhecido como LHC (Large Hadron Collider), afirmou o físico Guy Wilkinson, que participou na experiência. Trata-se de um barião, partícula composta por outras mais pequenas, os quarks. Os protões e os neutrões são exemplos de bariões. A nova partícula descoberta, que se supõe ter um papel na maneira como a matéria é composta, tem dois quarks pesados e um mais leve. Normalmente, os bariões costumam ter apenas um quark pesado.

Os especialistas acreditam que esta nova descoberta poderá ajudar a estudar o mecanismo que mantém a matéria unida, bem como entender uma das quatro forças fundamentais da natureza: a força forte. As outras três forças identificadas pela Física moderna são a gravitacional, a eletrodinâmica e a força fraca.

Por: António Costa

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