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“Woodport” cada vez mais longe de Pinhel

António Baraças tem um milhão de euros “empatados” e teme pela cidade e pelos desempregados

A fixação da fábrica de aglomerados de madeira Basmad nas antigas instalações da Rohde, em Pinhel, parece ser cada vez mais uma miragem. A primeira data apontada para a abertura da unidade industrial era Abril, mas em Junho o presidente do município, António Ruas, já se mostrava desanimado. Um mês depois, António Baraças, dono dos pavilhões da antiga multinacional de calçado, ainda estava confiante de que a fábrica começaria a produção até ao início de Setembro. Esta semana é o próprio responsável da Baraças Irmãos Unidos (BIU) a admitir que está «pouco confiante» quanto ao sucesso deste negócio.

«Não acredito que a empresa venha a abrir. Neste momento, só depois de a ver cá», desabafa. A fábrica a instalar pertenceria ao Grupo Basmad – Sociedade de Gestão e Participações Sociais, S.A., e vinha com a promessa de criar 400 postos de trabalho. Segundo António Baraças, «os dois sócios da “empresa-mãe”, no Carregal do Sal, desentenderam-se», pelo que agora o cenário é de «ruptura na fábrica de Pinhel». O empresário faz questão de reforçar que os contactos que manteve sempre foram com a Sevenil, uma das três marcas do grupo, que produzia folha de madeira. Na “cidade-falcão” produzir-se-ia um novo modelo de porta, bastante leve, mas invulgarmente resistente, e tinha o mercado espanhol como alvo preferencial. A ruptura em Carregal do Sal deixa António Baraças com mais de um milhão de euros “empatados” nas instalações da Rohde, depois da construção de dois novos pavilhões – um com 3.500 metros quadrados e outro com dois mil – adaptados à suposta nova actividade.

No interior das instalações estão ainda «três milhões de euros em maquinaria, que está presa ao chão e ao tecto», sublinha António Baraças, sem saber, contudo, se pertencem a bancos, aos fabricantes, a fornecedores ou à própria empresa de Carregal do Sal. Foi precisamente com a entrada das máquinas nos pavilhões que o proprietário ficou «entusiasmado» e aceitou o negócio. Neste momento, essa será a contrapartida mais viável que o pinhelense poderá reclamar: «Por enquanto, ninguém poderá levá-las sem que haja negociações comigo», avisa. Ainda assim, os valores investidos não são a sua maior preocupação: «Nesse aspecto estou mais preocupado com as pessoas, porque gostava que Pinhel se tornasse numa cidade empregadora e, para a desenvolver, é preciso criar emprego», considera. Com este objectivo, o empresário tem abordado outras empresas do ramo para ali se poderem sediar. «Os pretensos interessados ficaram todos encantados com as instalações, além de haver por cá muita mão-de-obra, mas o tempo vai passando e ainda não houve contactos mais concretos», lamenta.

Apesar de tudo, António Baraças diz-se «um optimista» e acredita que haverá dias melhores: «A qualquer momento pode surgir o contacto de um investidor. E espero que apareça, independentemente do número de postos de trabalho que venha a criar», refere. É que a criação de empregos urge, tendo em conta o encerramento da fábrica de calçado Rohde e, mais recentemente, da fábrica de confecções “Ana e Raquel”, que deixou cerca de 60 mulheres no desemprego após ter laborado durante 10 meses na antiga cooperativa de frutas de Pinhel. Apesar das tentativas, O INTERIOR não conseguiu obter qualquer reacção da Basmad nem de António Ruas.

Igor de Sousa Costa

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