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Editorial

Qualquer que seja o resultado da crise grega, a Europa não voltará a ser a mesma, é o que se conclui perante tudo o que tem acontecido nas últimas semanas e meses. Contrariando os europeístas, ficou em evidência que a Europa tem muitas fragilidades e que a União, não o é tanto como alguns queriam ou anteviam. E contrariando os eurocépticos, fica em evidência a interdependência entre os estados e o quanto a queda de um arrasta outros; ficou em evidência que a crise de um pequeno país tem um enorme risco sistémico e pode abanar todo o sistema, não apenas na Europa mas inclusive os Estados Unidos. Berlim e Paris podem continuar a dançar sozinhos que nada vão conseguir se não houver uma estratégia comum e transversal a toda a Europa.

A descida da Euribor é a única boa notícia dos últimos tempos. Não que, per si, possa induzir alguma retoma, mas porque permite atenuar os aumentos das dificuldades das empresas e das famílias – e da banca e do próprio Estado. É pouco, mas permitirá um certo folgar de costas para quem tem de pagar empréstimos e nos últimos tempos tem visto o preço do dinheiro aumentar sistematicamente. Tanto que, em Portugal, há 600 mil famílias a deixar de pagar os respetivos créditos à banca. E o crédito à habitação tem já mais de 120 mil famílias incumpridoras, o que poderá conduzir a uma crise social sem precedentes e a milhares de famílias serem despejadas com a “cobrança” das hipotecas. E com milhares de casas a serem postas à venda num mercado imobiliário onde não se vende nada – não há crédito, nem vontade de arriscar.

Neste quadro negro, resta a esperança de ver renascer o campo, a lavoura, a agricultura. Mas sem apoios e sem crédito bonificado, não será possível investir na recuperação da agricultura. E sem o emparcelamento, tantas vezes reclamado, mas nunca conseguido, a nossa região nem no campo pode ver renascer alguma esperança.

Luis Baptista-Martins

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