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Viva la fiesta!

Editorial

1. A primeira vez que ouvi falar de Torremolinos foi nos anos setenta. Era uma criança e frequentava o Externato de S. Pedro, onde o Padre Mesquita “pregou” sobre a anormalidade de umas férias de estudantes finalistas que foram expulsos do hotel, por desacatos, ruídos e «atirarem colchões para a piscina». Essa viagem de finalistas fez então correr muita tinta e com ela “acabaram-se” as viagens de finalistas dos estudantes portugueses. Por culpa dos incidentes de Torremolinos, há 40 anos, houve gerações de estudantes que não puderam fazer viagem de finalistas…

Entretanto, as viagens de finalistas regressaram e o negócio floresceu, com milhares de jovens a serem conduzidos para o estertor da festa no sul de Espanha – os grandes hotéis do Algarve não aceitam os “finalistas” e por isso o destino foi fixado em Espanha, mais barato, mais quente e mais festivo.

Perante o ruído provocado pela expulsão de mil estudantes do velho “Camino Real” (um hotel habituado a receber famílias e sexagenários) muito se tem falado da falta de educação das novas gerações. E até ouvimos pessoas com vinte e poucos anos a dizer que «no meu tempo» não acontecia nada disto…. Acontecia! E acontecia há 40 anos! Não se trata de um problema geracional, é apenas uma questão de rebeldia juvenil, de loucura coletiva alimentada pelo excesso, pelo álcool e pela libertinagem. Nada de anormal! Nada que não se resolva com o crescimento, maturidade e bom senso. As gerações anteriores fizeram a mesma coisa ou coisas parecidas. O que houve foi meia dúzia que se excederam num hotel que não estava preparado para tanta farra e o pior dos espanhóis veio ao de cima: a aversão para com os portugueses.

2. Depois de oito anos de investigação, o Ministério Público (MP) decidiu arquivar o processo sobre Dias Loureiro. Ou seja, depois de oito anos de investigação criminal e julgamento popular, o advogado originário de Aguiar da Beira, ex-ministro e empresário, que terá feito as maiores falcatruas e terá ajudado Oliveira e Costa no BPN, que entretanto custou aos contribuintes portugueses milhões de euros, não é acusado de nada. Oito anos de rumores sobre a integridade do dirigente laranja, que, depois de oito anos, não são mais do que boatos alimentados pelo MP e por uma investigação incapaz de formar acusação. Induzidos pela “verdade” dos factos e das provas que o Ministério Público foi “passando” à imprensa, todos comentámos, escrevemos ou falámos sobre as “habilidades” e “falcatruas” de Dias Loureiro mas eram os investigadores, que em oito anos só por uma vez acharam necessário ouvir o político de Aguiar da Beira, quem tinha de provar e acusar. Não o conseguiram fazer. Uma investigação de oito anos custa muito dinheiro ao erário público e tinha de apresentar resultados.

Perante este caso, e considerando as muitas investigações em curso sobre crimes de “colarinho branco”, que desfecho esperar em casos como o de José Sócrates ou do Espírito Santo? Processos complexos, mas nos quais teremos de exigir provas, acusação e julgamento. Não podemos continuar a condenar sem julgamento e o Ministério Público não pode reter um cidadão ou mantê-lo sobre uma guilhotina popular (e destruí-lo pessoal e profissionalmente) e depois não provar, não acusar e nem haver julgamento.

Luis Baptista-Martins

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