À terceira foi mesmo de vez e Vítor Pereira conseguiu no último domingo ser eleito presidente da Câmara da Covilhã. Sem obter maioria absoluta, o candidato socialista devolveu ao partido a autarquia perdida para Carlos Pinto há 16 anos, garantindo a eleição de três vereadores. Na segunda posição ficou o independente Pedro Farromba, que elegeu dois vereadores, sendo também eleitos Joaquim Matias (PSD) e José Pinto (CDU).
O PS obteve 37,57 por cento da votação, correspondentes a 10.687 votos, o movimento Pedro Farromba – Acreditar Covilhã 28,33 por cento (8.058 votos), enquanto o PSD obteve 14,95 por cento (4.254 votos), a CDU 11,04 (3.141 votos) e o Bloco de Esquerda 1,75 por cento (498 votos). Em termos comparativos, há quatro anos, o PSD com Carlos Pinto obteve 56,69 por cento, com 17.931 votos, e o PS 26,83 por cento, com 8.486 votos. Já passava das 23 horas quando Vítor Pereira chegou à sua sede de campanha, onde foi efusivamente saudado por dezenas de apoiantes que ainda sonharam com a maioria absoluta. Nem a chuva acalmou os ânimos e foi ao som de “Grândola Vila Morena” que a comitiva vitoriosa percorreu o curto percurso que separa a sede de campanha localizada na Rua Direita e o Pelourinho, onde o presidente eleito falou aos jornalistas. O advogado assumiu que recuperar a autarquia 16 anos depois para o PS tem um gosto «muito especial», até porque assume-se como «um socialista dos sete costados» que sofre com as derrotas e vibra com as vitórias do partido «e, como tal, não podia deixar de vibrar, e de que maneira, com esta importante reconquista». Vítor Pereira afirmou que este era o «primeiro dia do resto da vida de um mandato que se avizinha difícil», defendendo ter recebido «a missão mais importante da minha vida».
Sem maioria absoluta, Vítor Pereira admitiu recorrer a uma aliança com algum dos eleitos por outras cores: «Independentemente dos resultados sou um homem que procura fazer pontes, consensos e trabalharei no sentido de gerar o consenso e a estabilidade indispensável para governar o concelho». De resto, o advogado entende que uma das suas «missões» será a de «unir e pacificar os covilhanenses». Uma das primeiras medidas que o presidente eleito vai tomar é fazer uma auditoria «rigorosíssima» às contas do município. No discurso aos apoiantes, o advogado não se esqueceu de quem liderou a autarquia nos últimos quatro mandatos: «Se alguém foi derrotado foi Carlos Pinto que, não estando a concorrer, queria perpetuar-se no poder, como esteve ao longo destes 16 anos, numa forma quase antidemocrática gerindo à sua maneira os destinos da Covilhã», disparou.
Carlos Pinto considera que o PSD sofreu «humilhação»
O segundo mais votado foi o independente Pedro Farromba que admitiu que «sempre» esteve «confiante na vitória» porque «fomos recebidos em todo o concelho de braços abertos e as expetativas eram de que iríamos vencer». O até agora vice-presidente do município salientou que «foi a primeira vez que se apresentou um movimento independente para as eleições na Câmara da Covilhã. Fizemos um grande trabalho, sério, sóbrio, nunca insultámos ninguém, apresentámos as nossas ideias e projetos. Os covilhanenses na sua maioria preferiram votar noutro projeto e cá estaremos para trabalhar nos próximos quatro anos».
Já Carlos Pinto, que não se pôde recandidatar em virtude da lei de limitação de mandatos e que apoiava a candidatura do seu vice-presidente, sustentou que Pedro Farromba obteve um «resultado extraordinário porque sem apoio partidário e sem máquina atrás de si ficou a dois mil votos do PS». O autarca considerou assim que o candidato independente é um «relativo vencedor», bem como a CDU, enquanto o PSD foi o «grande derrotado» da noite, tendo sofrido uma «verdadeira humilhação», pois, em seu entender, «não há memória de uma votação destas» no partido. «Não vale a pena desculparem-se com os outros candidatos, têm que encontrar razões dentro das escolhas que fizeram, sobretudo da culpa de Lisboa que sabendo que Pedro Farromba estava melhor colocado não teve a coragem de rejeitar a proposta dos órgãos do partido que conduziram a este desastre», sustentou Carlos Pinto. Deste modo, realçou que se os dirigentes da concelhia do partido «tivessem consciência do que isto significa a primeira coisa que faziam era pôr os lugares à disposição». O autarca que liderou a autarquia durante 20 anos constata que a Câmara fica «muito dividida», estimando que o novo presidente «não venha a provar do que andou a dar a beber nos últimos tempos em termos de divisão, de tal maneira que o se passou nos últimos meses possa parecer apenas uma brincadeira de meninos relativamente ao que pode vir por aí».
Matias considera que teria ganho «se não fosse a oposição» de Carlos Pinto
O PSD, partido que liderava o município, elegeu apenas Joaquim Matias. O candidato vai assumir o lugar e realçou que «em eleições ganha-se e perde-se», assumindo a «responsabilidade dos resultados», embora continue a defender que os seus projetos e candidatos «eram os melhores para o concelho». Na hora de assumir o desaire, o professor “não se esqueceu” da candidatura independente: «Se não tivéssemos tido a oposição de uma máquina autárquica colocada ao serviço de uma candidatura e se não fosse a oposição de um homem que foi levado ao colo pelo PSD que se chama Carlos Pinto estaríamos aqui certamente a comemorar, mas não foi assim e alguém vai ter que comer o pão que o diabo amassou», vaticinou.
Muito satisfeito estava José Pinto que 12 anos depois garantiu novamente a eleição de um vereador para a CDU e mostra-se disponível para um entendimento com o PS: «Da nossa parte sempre existiu abertura. Nunca pusemos qualquer entrave desde que os interesses dos covilhanenses e de todos aqueles que apostaram na nossa candidatura estejam em primeiro lugar. Queremos uma Câmara participada e colegial», realçou o candidato que foi presidente da Junta da Boidobra durante 24 anos. O vereador eleito avisa, desde já, que «se o PS estiver a pensar que a Câmara apenas servirá para determinadas situações e para pagar favores nós não colaboramos. Como não temos que pagar favores a ninguém estamos cá com todo o à vontade para exigir aquilo que é a pretensa de quem votou em nós».
Ricardo Cordeiro