O sucessor de Carlos Pinto na Câmara da Covilhã deixou bem claro no discurso de tomada de posse o que o diferencia do autarca social-democrata. «O poder autárquico não pode ser uma espécie de máquina tentacular que tudo influencia. Ele serve para ajudar os cidadãos e não para se substituir aos cidadãos», disse, entre outros recados.
Tolerância, liberdade e democracia foram as palavras mais citadas por Vítor Pereira no seu discurso de tomada de posse, realizada no Dia da Cidade da Covilhã. No último domingo, o novo presidente da Câmara sucedeu ao popular e polémico Carlos Pinto, que já não pôde recandidatar-se devido à lei da limitação de mandatos, e fez questão de marcar a diferença.
«A Covilhã que pretendo ajudar a construir é uma cidade tolerante, que saiba que a ação em democracia é um ato não de exercício de autoridade mas de um poder legitimado pelo voto popular», começou por dizer. E prosseguiu: «Comigo, as opções sempre serão claras, pois o poder autárquico não pode ser uma espécie de máquina tentacular que tudo influencia. Ele serve para ajudar os cidadãos e não para se substituir aos cidadãos», afirmou Vítor Pereira, para quem o executivo «não tem que interferir na vida das associações, das empresas e muito menos na dos cidadãos». Estava lançado o lema do seu mandato, que será «tutelado pela liberdade e pela tolerância, sabendo eu que a primeira implica a responsabilidade de agir e decidir e que a segunda impõe a necessidade de ser transparente e de compreender e aceitar as opiniões dos outros». O socialista, derrotado há quatro anos por Carlos Pinto, considerou também que «não há homens providenciais, salvadores e insubstituíveis» e que, nesse sentido, «a Covilhã existirá para além de mim».
Vereador da oposição no último mandato, o advogado partilhou ainda a sua definição do que é ser presidente de Câmara, dizendo que o seu papel no município da Covilhã vai ser «o de unir o que anda disperso». Assim, Vítor Pereira quer tentar unir «os covilhanenses, a UBI, o CHCB, os agentes culturais, as associações e a autarquia», mas também «os trabalhadores e os empresários, os agricultores e os comerciantes com os consumidores, os empreiteiros com a política urbanística equilibrada e não destruidora dos valores estéticos, históricos e culturais da região». No final do mandato, «se tiver conseguido reunir algo do que anda disperso terei conseguido a minha obrigação, assim Deus me ajude», declarou o presidente, que promete rigor na aplicação do dinheiro. O socialista disse também ser necessário que os covilhanenses conheçam os processos judiciais em que a autarquia é parte, assim como os riscos envolvidos. «Têm que perceber a razão de ser dos mesmos, as suas causas e motivos», afirmou, acrescentado que o objetivo do seu executivo é que «os cidadãos resolvam os seus diferendos sem necessidade de recurso aos tribunais», para tal «a Câmara tomará sempre uma decisão justa, equilibrada e consensual e nunca como uma espécie de castigo porque o cidadão ousa pensar de forma diferente».
Vítor Pereira quer também afirmar a liderança da Covilhã, mas «convencendo, em vez de impor, com soberba, que o desenvolvimento do nosso concelho assentará nas bases que mais interessam a um conceito de desenvolvimento comum e sustentado da Cova da Beira e da CIM Beiras e Serra da Estrela». A tomada de posse foi precedida de um protesto ruidoso da população do Ourondo contra a agregação da sua freguesia a Casegas.
Acordo pós-eleitoral à esquerda
Sem maioria absoluta, Vítor Pereira preside a um executivo composto por dois vereadores socialistas (Carlos Martins e Paula Simões), dois vereadores independentes (Pedro Farromba e Nelson Silva), um do PSD (Joaquim Matias) e outro da CDU (José Pinto). Para viabilizar uma gestão sem sobressaltos, o presidente está a negociar com o vereador comunista um acordo pós-eleitoral. Vítor Pereira já disse que «devemos privilegiar o entendimento à esquerda», enquanto a concelhia do PCP manifestou disponibilidade para assumir «pelouros e responsabilidades de gestão camarária na base de um entendimento de esquerda». Contudo, José Pinto aguarda a formalização de «uma proposta concreta» por parte do edil. Até lá, Vítor Pereira já divulgou as escolhas para o seu gabinete. Carlos Mineiro, atual diretor do Centro Local da Beira Alta da Autoridade para as Condições do Trabalho, sediado na Guarda, será chefe de gabinete; Jorge Torrão, o quarto da lista, vai ser o seu assessor e Romeu Afonso, ex-deputado municipal, o secretário. A Assembleia Municipal será presidida pelo antigo reitor da UBI, Manuel Santos Silva.
Luis Martins