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Visabeira desiste do Hotel Turismo da Guarda

Governo terá que iniciar novo procedimento concursal para a requalificação e gestão da unidade guardense, o que deverá fazer após conhecer «as condições do mercado»

A Visabeira Turismo desistiu do Hotel Turismo da Guarda e o Governo vai ter que iniciar um novo processo concursal, apurou O INTERIOR. O grupo empresarial sediado em Viseu tinha sido notificado da adjudicação do arrendamento, com opção de compra, mas terá voltado atrás após o Turismo de Portugal e as Finanças não aceitarem que o único candidato selecionado se recusasse a pagar rendas antes da abertura da unidade.

A bloquear a concretização do negócio estavam cerca de 180 mil euros, o valor das rendas a pagar entre o momento da assinatura do contrato e a abertura do futuro hotel – cerca de 5.000 euros por mês durante 36 meses –, mas que a Visabeira considerava não ter que pagar antes da entrada em funcionamento da unidade. Para ultrapassar o diferendo a Câmara da Guarda chegou a manifestar disponibilidade para pagar esse montante, sem sucesso. «A condição que a empresa queria impor, após saber que era o único concorrente admitido, alterava sobremaneira os critérios do concurso que já estava a decorrer. Ou seja, pagar rendas a partir da abertura do hotel era baixar o preço do procedimento e se o preço era mais reduzido, se calhar, haveria mais concorrentes», adiantou a O INTERIOR fonte conhecedora do processo.

A mesma fonte acrescentou que «o Governo está empenhado em encontrar uma solução muito rapidamente para o Hotel Turismo da Guarda», mas, para evitar que o próximo concurso fique deserto ou que os potenciais interessados desistam após conhecer as condições, vai querer «ouvir o mercado e conhecer os reais interesses dos investidores». O objetivo é saber «até onde podem ir os privados, o que pretendem relativamente àquela unidade e em que circunstâncias para que o mercado corresponda e o negócio se faça», adiantou a fonte. A Câmara da Guarda, que concordava com a Visabeira, tinha votado contra a adjudicação no seio do júri formado com o Turismo de Portugal, atual proprietário do imóvel, e representantes do Ministério das Finanças. No final de junho, Álvaro Amaro, antecipando o fim do negócio, já falava na necessidade do Estado promover «o mais rapidamente possível» uma terceira hasta pública. O que vai acontecer, embora não se saiba ainda a que preço e em que condições.

Edifício fechado desde 2010

A Visabeira Turismo, que gere seis unidades hoteleiras de cinco e quatro estrelas em Viseu e Aveiro, tinha sido o concorrente escolhido para reabrir o Hotel Turismo da Guarda. O grupo passou à fase de negociações com o Turismo de Portugal na segunda hasta pública realizada em 2015, após um primeiro procedimento ter ficado deserto. Se o negócio se tivesse concretizado, a empresa teria que realizar obras de recuperação do edifício e abrir o hotel, encerrado desde finais de 2010, num prazo de quatro anos. O contrato de arrendamento vigoraria por 30 anos e renovar-se-ia automaticamente por 15 anos, salvo decisão em contrário de alguma das partes. Nesse período, o futuro adjudicatário poderá comprar o imóvel, uma opção a exercer nos dez primeiros anos do contrato, por 1,7 milhões de euros, «um valor atualizável à taxa de 2 por cento ao ano, capitalizável anualmente», referia o caderno de encargos. Nesse caso, o potencial proprietário poderia abater as rendas pagas, sendo que a dedução seria de 70 por cento se exercesse a opção de compra até 4 anos; de 50 por cento se fizesse após o quarto ano e até ao sétimo; e de 25 por cento entre o sétimo e o décimo ano.

O edifício onde funcionou o Hotel Turismo da Guarda foi vendido em maio de 2011 pela Câmara da Guarda, então liderada pelo socialista Joaquim Valente, ao Turismo de Portugal, por 3,5 milhões de euros, para ser recuperado e transformado em hotel de charme com escola de hotelaria, mas o projeto não saiu do papel e o imóvel está de portas fechadas e a degradar-se desde novembro de 2010.

Luis Martins Histórico hotel foi vendido pela Câmara ao Turismo de Portugal por 3,5 milhões de euros em 2011, sete meses depois de fechar portas

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