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Vinte anos

EXPRESSÃO

Neste abril de 2012 completa o EXPRESSÃO 20 anos. Linda idade! Ai, esta magia das dezenas, que tanto nos arrasta para o pensar! Será porque contamos na base de base 10?

Vinte anos: são as vinte voltas que a terra deu ao sol. Imperturbável, alheia ao que ali, num minúsculo ponto duma pequena cidade, uns existentes humanos, quase distraídos, se deixam consumir por este vendaval cronológico que, insaciável, tudo engole. Vinte anos foram engolidos por este «cronos» sedento que por todos nós passou.

Pedem-me uma crónica para o EXPRESSÃO. Com este jornal escolar a palavra «expressão», de feminina, passou a masculina, o EXPRESSÃO: síntese de expressões de quantos ali foram deixando um pouco de si, das suas vivências, experiências, pensares e visões das coisas.

Pedem-me uma crónica para e sobre o EXPRESSÃO: o EXPRESSÃO a falar de si! Mas lembro-me agora que «crónica» radica em «cronos», esse tempo implacável que tudo parece consumir. Prefiro ir por outros caminhos, pela estrada do «kairos», ou do tempo como ocasião prenhe de virtualidades humanas.

Mas como se chamará a um texto jornalístico que não vem de «cronos», mas que é escrito no horizonte do «kairos», do tempo que tudo dá, do tempo conveniente das oportunidades oferecidas? Não creio que tal palavra exista na língua portuguesa, mas estou-lhe agora a sentir a falta.

Como todo o momento cronológico pode ser também «kairos», ou seja, tempo à altura da densidade da vida, creio bem que estes 20 anos do EXPRESSÃO não são só vinte anos cronologicamente pensados, mas são também, ou sobretudo, «kairós», isto é, tempo de oportunidades de quantos o souberam e puderam aproveitar.

Pedem-me que nessa crónica possa expressar o meu pensamento sobre o que deverá ser um jornal escolar. Inspirado nesta ideia de «kairos», creio poder dizer que um jornal escolar é, sobretudo, oportunidade: para os alunos, para os professores, para a comunidade escolar e para o meio em que a escola se insere. E não nasceu o EXPRESSÃO de uma utopia comunicacional da escola com o meio? Pensarão muitos, ou todos, que dizer de um jornal escolar ser, sobretudo, oportunidade, é dizer uma daquelas verdades que saem da boca daquele senhor La Palisse. Com aplauso, concordarei. Mas creio bem que muitas verdades lapalissianas, como verdades simples, são as verdades menos visíveis e mais esquecidas, como ao chão que pisamos no caminho e que vamos ignorando, apesar de ser ele que nos sustenta e que a cada momento é também o espaço do tempo oportuno.

Creio que, por aí, o EXPRESSÃO foi oportuno e criou oportunidades.

Vinte anos de um jornal, a preencher todos os dedos do humano existente: dedos das mãos e dedos dos pés. Com as mãos se escreve e com os pés se anda.

Com as mãos se escreve – Muitas centenas de dedos elaboraram os seus textos.

Com os pés se anda – muito andou o EXPRESSÃO com os pés pequenos com que nasceu: foi menino e foi crescendo, aplaudiu e protestou, ganhou prémios e, com razão, se envaideceu! Muitas visões pensadas se terão tornado realidades. Outras terão ficado na fase estética do pensar. Mas outras continuarão sempre sonhadas, como os sonhos dos homens e as utopias destes sonhos. É que a educação possui sempre uma dimensão utópica. E quando ela morre deixa de ser educação para se tornar formatação.

Pois continue o EXPRESSÃO a ser a expressão das oportunidades de vida a quantos para a vida vão despertando, mesmo numa madrugada de céu nublado, como parece ser o do presente, presente que, mesmo nublado, possa ser tempo oportuno.

Nesta magia das duas dezenas, parabéns ao EXPRESSÃO. Parabéns a quantos lhe deram a luz do dia e que o têm alimentado.

Parabéns, jornal EXPRESSAO. Continua, sem desfalecer, para bem de todos mas, sobretudo, dos jovens da tua escola.

António Salvado Morgado

(Presidente do Conselho Executivo da ESAA na altura do 1º número)

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